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Stefan Schimitz - "Eterna Saudade" (Dilermando Reis)
https://www.youtube.com/watch?v=oyKgvPJsFPk
Stefan Schimitz - "Eterna Saudade" (Dilermando Reis)
https://www.youtube.com/watch?v=oyKgvPJsFPk
Vou contar uma história. Uma história de gente do interior. Uma história da qual eu não quero me esquecer. Não quero me esquecer porque também é minha. Uma história cujo tema é a amizade e o tempo: o tempo implacável que faz com que nos aproximemos ou nos distanciemos daqueles com quem convivemos um dia.
Pois então, deixe-me contá-la...
Um dos meus tios teve um grande amigo. Desde a juventude conversavam, reuniam-se diariamente com amigos comuns, sentavam-se em botecos com cadeiras nas calçadas, iam a ranchos em beiras de rios, festas e comemorações cívicas.
Juntos debatiam as carências do município, propunham soluções para os problemas da cidade e erguiam bandeiras.
O tempo passou; a mocidade passou. Cada qual constituiu sua própria família e seguiu seu próprio caminho: meu tio tornou-se comerciante; seu amigo, médico.
Muitos anos depois, amenizadas as batalhas pela vida, os dois retomaram o hábito dos encontros frequentes. Não mais em bares ou em ranchos em beiras de rios.
Sentavam-se à porta de entrada da loja de calçados do meu tio, na esquina da estrada de ferro com a rua principal, e ali passavam boa parte do dia.
Assim como na história, os acontecimentos na cidade se repetiam. Não havia muito o que comentar. Observavam o passar das horas. Relembravam. O silêncio não os incomodava. Ficavam ali. Vigiavam o tempo. Ocasionalmente uma palavra, uma recordação... um lamento, um sorriso...
Pois então, deixe-me contá-la...
Um dos meus tios teve um grande amigo. Desde a juventude conversavam, reuniam-se diariamente com amigos comuns, sentavam-se em botecos com cadeiras nas calçadas, iam a ranchos em beiras de rios, festas e comemorações cívicas.
Juntos debatiam as carências do município, propunham soluções para os problemas da cidade e erguiam bandeiras.
O tempo passou; a mocidade passou. Cada qual constituiu sua própria família e seguiu seu próprio caminho: meu tio tornou-se comerciante; seu amigo, médico.
Muitos anos depois, amenizadas as batalhas pela vida, os dois retomaram o hábito dos encontros frequentes. Não mais em bares ou em ranchos em beiras de rios.
Sentavam-se à porta de entrada da loja de calçados do meu tio, na esquina da estrada de ferro com a rua principal, e ali passavam boa parte do dia.
Assim como na história, os acontecimentos na cidade se repetiam. Não havia muito o que comentar. Observavam o passar das horas. Relembravam. O silêncio não os incomodava. Ficavam ali. Vigiavam o tempo. Ocasionalmente uma palavra, uma recordação... um lamento, um sorriso...
Dr. Leão e meu tio Milim - porta de entrada da loja de calçados, em algum lugar no tempo
foto: arquivo pessoal - Sahid Elias Antônio
Ao fundo da mesma loja de calçados, na qual, quando menino, eu também costumava passar muitas das minhas horas, senta-se ainda hoje o meu tio. Vou vê-lo sempre que possível. Outros conhecidos o visitam com frequência... O antigo amigo, o médico, mesmo tendo partido há anos, continua por ali, ao lado do meu tio, na condição de nome de avenida: a avenida viva em palmeiras que, "passando" ao lado da loja e atravessando toda a cidade, substituiu a antiga estrada de ferro.
Revendo uma foto de um de seus encontros diários, fico pensando:
- Os melhores diálogos dispensam formalidades. Às vezes, dispensam também palavras. Ter um antigo amigo ao lado é o que basta: a mesma consideração, o mesmo lugar, a mesma solidariedade implícita, a mesma recordação. A presença certa, espontânea e incondicional, é a maneira mais terna de se rezar em silêncio uma mesma oração... e dar amparo à condição de desamparados à qual estamos todos submetidos...
Eu, meu tio, minha avó, nosso amigo Toufic
Calçada em frente à entrada da loja (Foto: arq. pessoal, 1987)