Amanhã, doze de junho é o dia dos namorados. E muitas das histórias ou momentos importantes de namoro ficam marcados por uma música - ou por um artista (pelo menos ficavam). Li uma vez, na "Folha de São Paulo", uma crônica da Danuza Leão que falava justamente disso, das músicas que "embalavam" o namoro - em especial sob a visão feminina. Recortei do jornal essa crônica e a guardei em uma pasta de textos que leio e gosto. Pela data, transcrevo aqui essa crônica - que foi depois publicada no livro "Danuza & sua visão de mundo sem juízo"*.
Espero que também gostem.
(Fonte: http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4351612)
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*LEÃO, Danuza. Danuza & sua visão de mundo sem juízo. Rio de Janeiro - Agir, 2012
(fonte: http://books.google.com.br/books?id=_IDkUxifbvYC&pg=PT25&lpg=PT25&dq=houve+um+tempo+em+que+se+namorava+danuza+le%C3%A3o&source=bl&ots=5QVzNP0ZBF&sig=UnGAE5DHzPVAag_-d7ka1oKkl74&hl=pt-BR&sa=X&ei=9lmYU9_5H4nMsQTrgoDADQ&ved=0CCMQ6AEwAQ#v=onepage&q=houve%20um%20tempo%20em%20que%20se%20namorava%20danuza%20le%C3%A3o&f=false
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LEMBRA?
(HOUVE UM TEMPO EM QUE SE NAMORAVA)
(fonte: https://www.facebook.com/NoChatComDanuza/posts/331724153624701)
Houve um tempo em que se namorava muito e se pensava que se sofria muito - por amor, claro. As paixões se acendiam, embaladas pelas músicas do momento, que faziam parte integrante de nossas vidas. Quando, numa reunião - havia muitas reuniões nessa época -, os olhares se cruzavam, enquanto se ouvia "se você quer ser minha namorada, ai que linda namorada você poderia ser", o coração se derretia e era hora de ir ao banheiro com uma amiga, só para contar. Uma bebidinha daqui, muitos sorrisinhos dali, e, na décima vez que o disco tocava e chegava no trecho "mas se em vez de minha namorada você quer ser minha amada, minha amada, mais amada pra valer", e ele olhava de longe, desta vez sério, o coração só faltava sair pela boca.
Muitos anos e muitos amores depois, foi a vez de Roberto Carlos participar de todos os romances: "Você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci" - ah, uma boa dor-de-cotovelo ouvindo Roberto.
Quem nunca passou por isso não sabe o que é viver... Num início de caso - em altíssima voltagem! - entrava Chico com "quero ficar no teu corpo como tatuagem" - e quem não queria? E, no fim do caso, dava para agüentar "as marcas de amor dos nossos lençóis"?
Se ouvia muita música e, à noite, se ia sempre ao mesmo bar, onde um pianista tocava o que se tinha ouvido a tarde inteira; como todos se conheciam e sabiam das vidas uns dos outros, o pianista - Vinhas, quase sempre - atacava a "nossa" música... aquela!
A noite prosseguia com os olhos grudados na porta, para ver se ele entrava. Se entrasse sozinho, era hora de ir ao toalete, não para retocar a maquiagem, mas para respirar fundo e jurar, mas jurar de pés juntos que não ia nem olhar para o lado dele. A madrugada se encarregava de mudar os planos. Depois, veio "Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa".
As músicas diziam tudo o que não se tinha coragem de dizer, e era como se falassem por nós. Que mulher não cantou baixinho, depois que ele foi embora, "quando você me deixou, meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem", e não fantasiou que quando ele ouvisse "e tantas águas rolaram, tantos homens me amaram, bem mais e melhor que você" ia imediatamente pensar nela, quem sabe sofreria, quem sabe teria uma crise de ciúmes e pegaria o telefone de madrugada?
Quem sabe... quem sabe? E quando ela se "enrolou" toda com a chegada de um namorado que não esperava e ficou repetindo o disco, no trecho que dizia "se na bagunça do teu coração", para ver se ele entendia que o coração, às vezes, vira mesmo uma verdadeira bagunça, como o dela, naquele momento? Ah, Chico, ah, Roberto; vocês algum dia souberam que tinham sido tão importantes na nossa vida? Pois fiquem sabendo: foram. Nesse tempo as moças não levavam os namorados para dormir em casa, ou porque tinham pais ou porque tinham filhos; para isso havia os motéis. E do primeiro a gente nunca esquece... A cama redonda com cabeceira de curvin, a piscina - uma banheira de 2 X 2 -, o som embutido na cabeceira e, sobretudo, o clima, um clima de pecado que as moças da zona sul adoravam. Quando Roberto cantava "Amanhã de manhã vou pedir um café pra nós dois, te fazer um carinho e depois te envolver nos meus braços" e ele deixava "o café esfriando na mesa, esquecemos de tudo" e vinha o "pensando bem, amanhã eu não vou trabalhar, e além do mais, temos tantas razões pra ficar", não era preciso dizer nada: era a hora do telefonema para a empregada às 6 da manhã para que ela desmanchasse a cama e dissesse que você saiu cedo para buscar uma amiga no aeroporto, lembra? Grandes tempos.
Hoje a gente olha para trás e pensa: mas essas paixões existiram mesmo? Sem Chico e sem Roberto teriam havido tantas, tão intensas e tão arrebatadoras? Delas a gente até esqueceu, mas não do que se sentia ao ouvir "mas eu estou aqui vivendo este momento lindo".
E dá para viver momentos lindos hoje, ouvindo os "Racionais MC's"?
Pensando bem, o grande combustível de nossos corações foram as canções de Chico Buarque e Roberto Carlos. E, olhando para trás, é bem possível que a certeza de que "se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi" não existiria sem a música de Roberto.
Foi bom demais ter vivido esse tempo.
(CLIQUE PARA LER E OUVIR)
https://www.youtube.com/watch?v=KsQYsy46PeA
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