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(https://www.youtube.com/watch?v=JzXpGaIQt8U)
As ruas da minha terra não tinham nome atribuído por lei - pelo menos para mim, quando menino. Sempre as conheci considerando um ponto de referência, ou a localização da casa onde morava um amigo.
Assim a rua do clube, no final da rua principal, era a que começava onde havia um enorme abacateiro; a rua da igreja, a que passava no final da praça; a rua da escola de comércio, a que começava no meio da praça - ao lado da casa do Dr. Leão -; a rua do ginásio, que ligava a praça da igreja ao Colégio Marechal Rondon; a rua do cemitério, que terminava na porta do "dito cujo"; a rua do campo, que terminava no portão de entrada do "campo" de futebol; a rua da algodoeira, aquela onde ficava o Bar do João Odani; a rua do lado da cadeia, aquela no meio da qual jogávamos futebol; e a rua principal, que era a maior referência para a explicação de qualquer outro endereço. Talvez tenham sido elas as mais belas ruas por onde andei...
Nenhuma das ilustres figuras do meu país, que dão nome às "minhas" ruas, eram mais importantes (para mim) do que os nomes dos meus amigos. Daí que Barão do Rio Branco, Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Tiradentes, Getúlio Vargas, Washington Luiz, não me serviam de referência para localização ou informação. Eu as conhecia como rua do Serjão, rua do Walmir, rua do Chuchu, rua do Marcinho, rua do Tigrão, rua do Welsinho...
Assim a rua do clube, no final da rua principal, era a que começava onde havia um enorme abacateiro; a rua da igreja, a que passava no final da praça; a rua da escola de comércio, a que começava no meio da praça - ao lado da casa do Dr. Leão -; a rua do ginásio, que ligava a praça da igreja ao Colégio Marechal Rondon; a rua do cemitério, que terminava na porta do "dito cujo"; a rua do campo, que terminava no portão de entrada do "campo" de futebol; a rua da algodoeira, aquela onde ficava o Bar do João Odani; a rua do lado da cadeia, aquela no meio da qual jogávamos futebol; e a rua principal, que era a maior referência para a explicação de qualquer outro endereço. Talvez tenham sido elas as mais belas ruas por onde andei...
Nenhuma das ilustres figuras do meu país, que dão nome às "minhas" ruas, eram mais importantes (para mim) do que os nomes dos meus amigos. Daí que Barão do Rio Branco, Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Tiradentes, Getúlio Vargas, Washington Luiz, não me serviam de referência para localização ou informação. Eu as conhecia como rua do Serjão, rua do Walmir, rua do Chuchu, rua do Marcinho, rua do Tigrão, rua do Welsinho...
Quanto a minha própria rua, eu me referia a ela dizendo que era a da prefeitura. Mas também dizia que a minha rua era a mesma da do Maurinho, do Carlinhos, do Paulo, do Daniel e do Serginho.
Hoje olho com saudade o mapa de Guará. Vejo ali ruas centrais com nomes de personalidades nacionais que me remetem a figuras de semblante pesado, bigodes, barba, uniforme militar, terno e gravata - muito distantes dos semblantes alegres dos meus amigos-referências. Pesquiso no google e só localizo endereços se digito corretamente o nome que a administração pública atribuiu a cada uma das ruas da cidade.
(Mapa de Guará - fonte: http://www.guara.sp.gov.br/img/mapas/mapa_guara.jpg)
Mas, com o olhar no mapa, passeio pelas ruas e avenidas distantes das centrais e me surpreendo ao ver que, não somente personagens da história nacional, mas também homens e mulheres que conheci pessoalmente (e que já partiram) viraram nome de rua. Assim, Rua Paulo Afonso de Souza, Rua "Zezinho Seleiro", Rua Hilda Salomão, Rua Zaki Tannous, Rua Rolando Bini, Rua Voluntário José Nogueira, Rua Dr. Joaquim Bellido, e muitos outros...
O tempo passa e nos faz dessas coisas. De repente a gente olha para uma placa de rua e percebe que o nome ali gravado não traz simplesmente um nome qualquer; que há ali, a ser contada, a história de uma vida perpetuada não só pelos exemplos que deixou, mas também pelas imagens que ilustraram a nossa própria vida - em especial em nossos mais verdes anos...
E para evitar que ocorram preces e lamentos incorretamente endereçados, esclareço aos meus amigos que porventura passarem pela rua do cemitério que ainda estou vivo, que não tenho méritos para me tornar nem nome de rua e nem nome de nada, e que "Elias Antônio" é o nome do meu avô paterno - que morreu muito antes que eu tivesse nascido, e legou-me seu próprio nome - acrescido de "Neto".
(Placa em Guará, na rua do cemitério - fonte: arq. pessoal)
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