(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)
Há em minha terra natal, em proporção, um número muito expressivo de imigrantes e de descendentes de imigrantes sírios e libaneses. Pelo menos havia, há uns 40 anos atrás. Neto de imigrantes libaneses que sou, pelo lado paterno, eu mesmo trago um pouquinho dessa cultura. E próprio dela é o café compartilhado ao redor de uma mesa, com assuntos que conseguem nos levar a lugares onde nunca estivemos - ou onde já estivemos e que ficaram guardados.
Pois hoje à tarde, em uma loja de conveniências, olhando pela porta de vidro, vi um fusca grená fabricado nos anos 60. Esse carro me fez lembrar de alguns imigrantes libaneses que foram viver em Guará e que costumavam fumar cigarros de palha enquanto caminhavam lentamente às margens da estrada de ferro. Em geral eles se encontravam no final da tarde para comentar as ocorrências do dia e trocar informações à respeito da política nos países do oriente médio.
A fonte principal dessas informações, creio eu, era o Sr. Hassan. Era ele quem, durante as tardes quentes e preguiçosas de Guará/SP, estacionava seu fusca em frente a uma loja de secos e molhados.
Eu por ali, com meus amigos, filhos e netos de imigrantes, gostava de observá-lo. O Sr. Hassan mantinha aberta a porta do carro e, com a camisa desabotoada, picando fumo com um canivete, cumpria seu ritual diário de debruçar-se ao lado do carro e ficar ouvir o noticiário de seu país de origem.
Pois hoje à tarde, em uma loja de conveniências, olhando pela porta de vidro, vi um fusca grená fabricado nos anos 60. Esse carro me fez lembrar de alguns imigrantes libaneses que foram viver em Guará e que costumavam fumar cigarros de palha enquanto caminhavam lentamente às margens da estrada de ferro. Em geral eles se encontravam no final da tarde para comentar as ocorrências do dia e trocar informações à respeito da política nos países do oriente médio.
A fonte principal dessas informações, creio eu, era o Sr. Hassan. Era ele quem, durante as tardes quentes e preguiçosas de Guará/SP, estacionava seu fusca em frente a uma loja de secos e molhados.
(Sr. Hassan - foto: André Rodini)
Eu por ali, com meus amigos, filhos e netos de imigrantes, gostava de observá-lo. O Sr. Hassan mantinha aberta a porta do carro e, com a camisa desabotoada, picando fumo com um canivete, cumpria seu ritual diário de debruçar-se ao lado do carro e ficar ouvir o noticiário de seu país de origem.
(fonte: http://www.luizberto.com/coluna/historia-de-beiradeiro/page/3 - descolorizada)
Chamava-me à atenção o volume que ele colocava no som do rádio. De longe eu percebia que ele sempre sintonizava em uma estação que, em ondas curtas, transmitia notícias em árabe. Além da língua, que me era desconhecida, a voz humana na transmissão era praticamente imperceptível e indecifrável. Os ruídos e os chiados dominavam o que se podia ouvir. Eu, um pouco afastado, procurava entender e imaginar os erros e os acertos dos governos árabes que, para mim, eram transmitidos não pelo som vindo do rádio, mas pelo semblante do Sr. Hassan que alternava-se entre satisfação e desconsolo, pouca alegria e muita tristeza, à medida que o locutor dava pausas na sua fala.
Creio que muitas estratégias de política e de guerra foram discutidas com base nas notícias de rádio levadas pelo Sr. Hassan; e quantas soluções de paz certamente foram encontradas ali às margens da estrada de ferro! Porém, raramente parecia haver consenso no grupo.
(A estrada de ferro - fonte: Luiz Carlos Eufrosino)
Pensando nas transformações que o tempo proporciona, fiquei sabendo que a loja de secos e molhados virou uma “lan house”; o que era notícia de rádio quase que inaudível, e em árabe, virou imagem e som instantâneos transmitidos pela internet - e em português -; o fusca grená, pelo que ouvi dizer, foi vendido há muito tempo. Apesar disso, no meu pensamento, nos finais de tarde os meus queridos “patrícios” continuam caminhando juntos e, conversando, vão agora construindo um mundo novo... na avenida principal, que um dia foi estrada de ferro.
e continuaram a caminhar, de mãos unidas para trás, a conversar em árabe, dando voltas pelo quarteirão do Sr Antonio Abbud, coisas que , quando da minha infância me intrigavam muito......além do fato de ter convivido com os filhos do seu Hassan toda minha infância, e ter tido a oportunidade de participar ativamente dos almoços por lá, e da simplicidade da toalha de mesa de plástico, mas que colocava à mesa odores árabes inconfundíveis!
ResponderExcluirÉ, brimo, coisas simples e bonitas... os imigrantes com seus hábitos, os amigos, os costumes, a toalha simples e a mesa farta.... coisas que o tempo não destrói. Abração.
ExcluirPrezado Elias: O seu texto fez com que eu evocasse um tempo um pouco distante, cerca de 60 anos, na minha então pequena Sertãozinho. Embora a imensa maioria de italianos, conviviamos com laboriosos comerciantes sirios-libaneses, como os Moyses, Azrak,Daher,Mamed,Ali Mere,Elias,os quais,em dias festivos, dançavam, rodando os lenços, o que me encantavam. Além disso, eu ficava por ali aguardando passar bandejas com iguarias típicas.
ResponderExcluir... esses costumes, em especial o da união aliada à alegria da dança temperada com o sabor de coisas distantes, apesar dos dissabores de vida que certamente provaram, fez deles - os imigrantes - construtores do nosso querido Brasil (hoje tão judiado). Obrigado, Verri, pela visita ao blog e pelo comentário que, em muito, enriquece o texto.
Excluir