terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

DESCOBRINDO A MÚSICA CLÁSSICA


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)
(Canon in D Major - Pachelbel - fonte: https://www.youtube.com/watch?v=NlprozGcs80


     Nunca dei muita bola para a chamada "música clássica". Meu estilo preferido sempre esteve voltado para o popular elaborado - digamos assim. Foi em uma fase bem mais amadurecida que esse outro estilo nasceu para mim.

     O que me chama a atenção é observar o quanto a música popular desgasta-se com o passar do tempo. Há música que a gente ouve algumas vezes e depois, em virtude da sua repetição, cansa. Mas com a chamada música clássica não é assim: repetida, ela enseja, a cada audição, uma nova descoberta, um novo apego.

     Quando passamos a cantar uma música mecanicamente a tendência é de que ela se torne cansativa. Assim, o tempo de duração de uma música, ligada ao limite de nossa tolerância, é bastante limitado.

     Pensando nisso observei que as chamadas "clássicas" atravessam séculos e se renovam. Bach e Vivaldi, por exemplo, foram compositores da primeira metade do século XVIII; Mozart e Beethoven, do final do século XVIII e primeira metade do XIX. E ainda hoje ouvimos suas composições tão ricas e cheias de imagens. Ora, se uma música tem a capacidade de durar por tanto tempo sem se tornar enjoativa, isso só pode ser sinal de boa qualidade. 

     Compreendendo então a dimensão da minha ignorância e do meu preconceito em relação à música clássica, decidi que precisava conhecê-la. Mas daí o grande problema logo de cara: começar por onde? Como entrar no mundo da música clássica?

     Casualmente, um dia chegou às minhas mãos um artigo de jornal* que afirmava não haver nenhuma regra ou segredo para se aprender a ouvir música clássica; que, assim como ninguém entra na literatura lendo na sequência "A Bíblia", "Odisséia", "A Divina Comédia" e "Dom Quixote", na música clássica tampouco há ordem para se aprender a ouvi-la.

     Passei a acreditar, então, que o fundamental seria, inicialmente, "acostumar os meus ouvidos". Assim, eu só precisava colocar para tocar uma coletânea qualquer de música clássica, ficar quieto, e ouvir em silêncio.

     Gostei da ideia de imaginar que os sons poderiam despertar imagens, sentimentos e emoções. Entrei em contato com um amigo violoncelista, expliquei a ele o meu propósito, e pedi que gravasse para mim, aleatoriamente, um CD de músicas clássicas de diversos compositores.


Woking Art Gallery - Classical Music Collection - Classical String Quartet - Painting by Horsell Woking Surrey Artist Sera Knight
(Sera Knight: "String Quartet" - fonte: http://www.seraknight.co.uk/music-paintings/string-quartet-classical-musicians-painting.htm

     Assim, sem me preocupar em saber quem era o autor, ou o que cada música procurava transmitir, comecei a "treinar os meus ouvidos". Ouvindo o CD repetidas vezes fui percebendo que algumas características se assemelhavam em algumas composições. O uso do cravo, por exemplo, chamou-me à atenção. Em pouco tempo, e para minha surpresa, fui começando a querer identificar estilos e identidades de cada compositor. Achei o máximo esse exercício! E naturalmente fui querendo estender o aprendizado, ampliar, ouvir mais.

     Viajei muito em “Carmen”, do Bizet. Descobri que o compositor era francês e que “Carmen” pintava paisagens da Espanha; descobri que "Aranjuez Mon Amour", de que tanto gosto, é o segundo movimento do "Concierto de Aranjuez" do também espanhol Joaquin Rodrigo; que a "Ária na corda Sol da Suíte nº 3" é do Bach; que foi Vivaldi que compôs "As quatro estações"; e que uma música mais robusta, mais séria e elaborada indica ser, para mim, composição do Beethoven.

     Pois a música clássica ultrapassa o limite do tempo. Ela nos leva para todos os lugares e em todos os tempos sem que precisemos sair do lugar. Compreendo que uma música popular marca época, um momento específico que fica na nossa lembrança,  e que evidentemente tem seu valor e sua riqueza. Mas, com exceções, depois de ouvida algumas vezes, os sentimentos em relação a ela ficam anestesiados. Vide "Trem das Onze" com o Adoniran; "Garota de Ipanema" com o Tom; "Yesterday" com os Beatles; "My way" com o Frank Sinatra -  são músicas muito boas, mas que já disseram o que tinham que dizer, já transmitiram o que tinham que transmitir; estacionaram, tornaram-se retratos de uma cultura; passaram a ser símbolos de um momento na vida de cada um que as ouviu. Com a música clássica, diferente disso, a cada nova audição abre-se a possibilidade de novas descobertas, novas emoções.

     Não permanecendo estacionada no nosso tempo, a música clássica, no geral, tem a propriedade de nos conduzir muito além da nossa mente, passando do plano racional para o sensorial. Se na música clássica os sentimentos que somos capazes de experimentar ultrapassam aqueles que são passíveis de identificação, então é apropriado dizer que ela não se esgota no momento; que ela tem a propriedade de conseguir nos colocar em lugares onde nunca estivemos a cada vez que nos dispomos a ouvi-la.

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Sugestões minhas para se começar a ouvir e gostar da música clássica:
-1- Ária da Suite nº 3 BWV 1068 - Bach - https://www.youtube.com/watch?v=TTxPA4zuNbM
-2- Clarinet Concert in A major K 622 Adagio - Mozart - https://www.youtube.com/watch?v=JcIyTiKwDvU
-3- Moonlight Sonata nº 14 - Adagio Sostenuto - Beethoven - https://www.youtube.com/watch?v=MFP5mik-u9Y
-4- Arioso from Cantata BWV 156, 1st Adagio - Bach - https://www.youtube.com/watch?v=xueopsTHesw
-5- Valsa da dor - Heitor Villa-Lobos - https://www.youtube.com/watch?v=L-K_7kd4Qvs
-6- Sinfonia nº 7, 2º movimento - Beethoven - https://www.youtube.com/watch?v=J12zprD7V1k
-7- Concierto de Aranjuez - 2nd movement - Joaquin Rodrigo - https://www.youtube.com/watch?v=CBHfPh5Ibsk
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*"Para começar a escutar música clássica" - artigo de Arthur Nestrovsky escrito em 24/09/2002 - em  http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u123.shtml

2 comentários:

  1. Elias, você aguçou em mim a vontade de entrar nessa onda... apesar de gostar de músicas clássicas, não tenho o hábito de parar para ouví-las por muito tempo.
    Vou começar... Abração. Silvio Nucci.

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    1. Isso mesmo, Sílvio. É só começar para, em seguida, seguir avançando. Abraço.

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