sábado, 19 de fevereiro de 2011

"J'ACCUSE...!" (ou "O MEU CASO DREYFUS")



(Imagem: Primeira página do jornal L'Aurore com a carta escrita por Emile Zola)


     No final do século XIX aconteceu um grave erro judiciário na França. Esse caso ficou conhecido como O CASO DREYFUS.

     Uma empregada da embaixada alemã, na França, encontrou uma carta em um cesto de lixo e a entregou ao serviço secreto francês. Na carta havia indícios de que existia um oficial francês que fazia espionagem para os alemães. Alfred Dreyfus foi apontado como sendo o oficial francês, que era judeu, que poderia ter escrito a carta. Havia um forte anti-semitismo na França. Porisso ele foi considerado o principal suspeito. Submetido a um processo fraudulento, a portas fechadas, a carta foi usada como instrumento de acusação. Alfred Dreyfus foi julgado e condenado a prisão perpétua na ILHA DO DIABO, Guiana Francesa.

     Quando os oficiais de alta patente franceses se aperceberam de que havia fortes evidências da inocência de Dreyfus, tentaram ocultar o erro judicial. Tentaram acobertar essa fraude numa onda de nacionalismo que invadiu a França no final do século XIX. Realizou-se então um segundo julgamento o qual, mantendo a condenação, provocou a indignação de ÉMILE ZOLA, célebre escritor francês. Este, por sua vez, expôs o escândalo ao público por artigo publicado no jornal L'AURORE, numa famosa CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA intitulada “J’ACCUSE!” (Eu Acuso!). Nessa carta ZOLA fazia uma reprimenda à França, na pessoa de seu Presidente. Em um dos trechos, ele dizia:

     “Como poderias querer a verdade e a justiça, quando enxovalham a tal ponto todas as tuas virtudes lendárias?"

     Uma revisão do processo mostrou que um outro oficial do exército francês (Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy) fora o verdadeiro autor das cartas e que agia como espião dos alemães.

     Em decorrência disso, Dreyfus foi restabelecido parcialmente no exército francês. Ele nunca pediu nenhuma recompensa ao estado francês pela grande injustiça militar.

     Emile Zola, o consagrado escritor francês, foi presumivelmente assassinado por desconhecidos quatro anos após ter publicado “J’ACCUSE!”.

     O Caso Dreyfus é mostrado no filme “A vida de Emile Zola” (1937), dirigido por William Dieterle, e que ganhou o Oscar em 1938.

     Feitas estas considerações, sinto-me também no direito de acusar.

     Porisso, J’ACCUSE...

J’ACCUSE meus amigos Eduardo, Adnan e Abrahão, por terem me convencido de que uma garrafa de vinho tinto seco é bem melhor do que uma caixa de cerveja; dizem eles que no vinho há flavonóides, que faz bem para o coração...

J’ACCUSE minha esposa Denise, por insistir para que eu acorde às seis horas da madrugada e caminhe por uma hora, vários dias na semana, em um parque da cidade; segundo ela, um homem saudável é melhor que um desleixado...

J’ACCUSE meu tio Náufal por ter me inspirado o gosto pela música e pela literatura; afinal, sem música e literatura não há o que conversar...

J’ACCUSE meus amigos Daniel, Zé Américo e João, por insistirem em cantar comigo as músicas dos Beatles, mesmo que o dia esteja amanhecendo. Um homem é insignificante se não tem amigos...

J’ACCUSE meu amigo Renato, por gostar de ler e ouvir minhas histórias; alguém precisa nos ouvir e pensar no que dizemos, mesmo que seja alguma besteira...

J’ACCUSE meu professor Geraldo, por ter me ensinado onde fica cada nota no braço do violão; tocar violão sem respeito às cordas é uma indelicadeza, uma agressão...

J’ACCUSE meu amigo Abrahão por ter me receitado um remedinho bom prá caramba; ah... todo mundo precisa se cuidar, e eu não menos...

J’ACCUSE meu violão Di Giorgio, 1974, por me manter acordado até altas horas da madrugada; pois é ele quem abraço quando todos já foram dormir...

J’ACCUSE minha tia Anna por ter passado à minha esposa a receita do Trigo com Frango que minha avó fazia; no fim das contas, a reconciliação de Deus com o o diabo, ou de qualquer pessoa com seu inimigo se dará, não em torno de um prato de frango com quiabo conforme disse o Rubem Alves, mas sim em torno de um generoso prato de trigo com frango...

... e acuso muitos outros seres e objetos a quem quero bem. Afinal, cada um deles tem um pouco de culpa por eu ser como sou.

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