quarta-feira, 22 de outubro de 2014

SOUS LE CIEL DE BRASILIA*


(CLIQUE PARA VER E OUVIR - Sous Le Ciel de Paris - Yves Montand)


                    Para um rapaz que conheço bem
                         (no dia em que foi aceito
                         para estudar, em intercâmbio,
                         no Institut d'Études Politiques de Paris - Science Po.)


Sob o ceu de Brasília se evola uma canção
que nasceu hoje no coração de um rapaz.

Sob o ceu de Brasília caminha um jovem estudante,
para quem a felicidade se constroi sob um ceu todo feito para ele.

Sob o ceu de Brasília um rapaz trafega pelos eixos;
em seu coração tocam visões que se alternam entre o Paranoá(1) e 'la Seine'(2).

Sob o ceu de Brasília soam hinos de liberdade:
todos eles compostos para esse jovem rapaz...

...que consegue ver, no Planalto, 'l'Élysée'(3),
na Câmara, 'le Bourbon'(4),
no Senado, 'le Luxembourg'(5),
no Supremo, 'le Palais-Royal(6),
na UnB, 'la Sciences Po Paris'(7).

Sob o ceu de Brasília banha-se de planos um rapaz
que, de 1962 a 1872, vai trafegar de Darcy(8) a Boutmy(9).

Sob o ceu de Brasília há o sorriso discreto e constante de um rapaz...

(... que conheço muito bem, que está igualzinho ao meu, contente por ele, aqui na sala de estar...)  

(Fachada do "Institut d'Études Politiques de Paris" - Science Po. - fonte: http://tempsreel.nouvelobs.com/l-enquete-de-l-obs/20130301.OBS0542/richard-descoings-le-fantome-de-sciences-po.html)


*Sous le ciel de Brasilia = Sob o ceu de Brasília
(1)Paranoá - Lago Paranoá, em Brasília
(2)La Seine = o rio Sena, que banha Paris
(3)l'Élysée = Palácio do Eliseu, residência oficial do Presidente da República Francesa, onde está o seu gabinete, e onde se reúne o Conselho de Ministros
(4)le Bourbon = Palácio Bourbon, que abriga a Assembleia Nacional da França
(5)le Luxembourg = Palácio Luxemburgo = sede do Senado da França
(6)le Palais Royal = Palácio Real = onde está o Tribunal Constitucional da França
(7)la Sciences Po Paris = nome popular do Instituto de Estudos Políticos de Paris
(8)Darcy = Darcy Ribeiro = antropólogo brasileiro, fundador e primeiro reitor da Universidade de Brasília
(9)Boutmy - Emyle Boutmy - cientista político e sociólogo francês que fundou a "Science Po" em 1872

terça-feira, 14 de outubro de 2014

RECADO À RUTH E AO ÁLVARO


(Diego El Cigala - CLIQUE PARA OUVIR)

Queridos Amigos:

     Nestes tempos de internet, quando tudo é instantâneo e descartável, pelo correio somente nos chegam contas a pagar, catálogos promocionais de estabelecimentos comerciais e, em vésperas de eleições, mensagens de políticos indelicadamente grafadas mecanicamente - e assinadas da mesma forma.

     Mas para quem tem bons amigos as coisas não funcionam assim.

     Dentre tanta correspondência fria e impessoal, recebi ontem o cartão postal que vocês me enviaram. Uma verdadeira pepita de ouro!

     Com mensagem manuscrita iniciada por "Querido Amigo", vocês me contaram que estavam na Espanha e se lembraram de mim. Simples assim.

     Vocês, como bons amigos que são, estando em Madri, tiveram o capricho e a delicadeza de dedicar alguns minutos de seu tempo para escrever "à mão" e remeter a mim um cartão postal selado com uma foto da "Plaza Mayor"!.

(Plaza Mayor de Madrid - Espanha - foto em http://en.wikipedia.org/wiki/Plaza_Mayor,_Madrid#mediaviewer/File:Plaza_Mayor_de_Madrid_06.jpg)

     Saibam que, com o cartão em mãos, e por intermédio de vocês, senti-me naquela praça, atento aos detalhes, com a fantasia de que estávamos juntos em uma bodega qualquer, tomando vinho e ouvindo o Cigala*.

     Obrigado Ruth, obrigado Álvaro. Fiquei muito comovido. Aliás, estou me achando um verdadeiro "manteiga derretida".

     Guardarei o cartão com muito carinho.

     Elias
 
(Álvaro e Ruth em noite de sarau entre amigos - foto: arq. pessoal)

*Diego El Cigala - espanhol naturalizado dominicano, cantor de flamenco.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

HISTÓRIAS QUE AINDA NÃO FORAM CONTADAS


(Imigrantes sírio-libaneses e seus descendentes dançando o "Dabke" em festa de casamento de 1975 - ao centro o Sr. Jamil Jorge; da esq. para a direita a Dna. Labibe Bechara é a quinta - foto: arq. pessoal)

     A biblioteca da casa onde nasci guarda tesouros. Com três das quatro paredes tomadas por estantes, abriga, do piso ao forro, coleções de escritores brasileiros, livros avulsos de autores premiados, enciclopédias, dicionários, livros técnicos de Economia, Engenharia, Direito, coletâneas de jurisprudência e outros mais. Gosto de entrar ali nem que seja só para ficar olhando todos enfileirados, tocando em um ou outro livro, folheando... 

     Em um um final de semana recente em que estive lá encontrei, em cima da coleção "Os grandes processos da história", um pequeno livro: "Logradouros e Ruas de Guará".

(Capa do livro "Logradouros e Ruas de Guará" - org. por Dr. Romeu Franco - 2012 - foto: arq. pessoal)

     Fiquei deslumbrado! Vibrei e revivi minha história na cidade a cada página do livro que virava. Encontrei ali relacionados nomes que sempre me foram familiares, muitos deles de pessoas que tive o privilégio de conhecer e conversar.

     Editado em 2012 (1ª edição), e com uma dedicatória à minha mãe, a coletânea organizada pelo Dr. Romeu traz informações e uma biografia resumida de cada uma das pessoas que dá nome às ruas e logradouros de Guará.

     Procurei nele o nome de meu pai (Nehif) e do meu tio (Náufal) - e ali estavam, cada um dando nome a uma escola; procurei pelos Drs. Leão e Jahyr - e os encontrei -; pelos ex-prefeitos municipais Urbano Junqueira e Chiquinho Iozzi, pela professora Zita Salomão, pelo Prof. Dr. Bellido, pelo Sr. Maneco Henares; procurei por imigrantes japoneses e encontrei o Sr. Sakurai e a dona Maria Okamoto; por políticos e empresários, e encontrei o Srs. Olavo, Vando Pereira e Massuo Nakano. Como nome de rua, avenida, ou logradouro, estavam lá todos eles... e muitos, muitos outros. Cada um deles, inegavelmente, ao seu tempo e à sua maneira, fez história, deixou exemplos, e contribuiu para o desenvolvimento da cidade.

     Logo no prefácio o Dr. Marco Aurélio, então Prefeito Municipal - em cuja administração o livro foi editado - esclarece:

"(...) resolvemos trocar os nomes das ruas de Guará, que antes homenageavam Estados e países (...), trocamos os nomes por nomes de guaraenses e personalidades marcantes na história de Guará".

     Inegavelmente aqueles que conhecem sua história tendem a amar e defender o seu povo, pois criam amor às suas raízes. Por isso parabenizo o ex-prefeito - Dr. Marco Aurélio - pela iniciativa que teve, e em especial o Dr. Romeu pelo carinho e esforço que certamente empregou para obter as fotos e informações colocadas nesse belíssimo livro de referências. Por intermédio deles passamos a amar nosso povo e nossa história com maior intensidade.

     Sei que muitos exemplos de vida existem em Guará para serem lembrados. No entanto, dentre os nomes relacionados - salvo falha ou distração minha ao folhear o livro - não encontrei o de alguns "guaraenses" exemplares que, vindos de muito longe, de um outro continente, em Guará fizeram história pelo seu trabalho e pela sua luta na criação de seus filhos - e que, pelo exemplo que deram, precisam ser lembrados; seus feitos não podem ser esquecidos. 

     Na história de Guará, quem não conheceu o Sr. Jamil Jorge, imigrante sírio-libanês, alegre, brincalhão, dono de uma loja de tecidos na rua principal da cidade? E, ao lembrar-me dele, do seu trabalho como dono de loja, penso também em todo o seu esforço para criar e formar um filho médico - o Dr. Hassan (já falecido). Pois a história do Sr. Jamil tende a ser esquecida se não inserida naquele livro como nome de rua...

     Um pouquinho mais além, na mesma rua principal, atravessando a antiga estrada de ferro, morou ali e criou seis filhos uma também imigrante sírio-libanesa - a Dona Labibe Bechara. Tendo ficado viúva muito cedo, a Dona Labibe transformou, pelo comércio, as adversidades em forças, para conseguir criar e formar seus filhos - os quais tornaram-se (todos eles) nomes de respeito e admiração na cidade. Ela também precisa estar naquele livro por reconhecimento do Município...

     Merecem transcrição dois outros trechos escritos pelo pelo Dr. Marco Aurélio também no prefácio. Frisando o objetivo principal do livro, ele diz o seguinte:

"Nosso propósito é homenagear as pessoas que contribuíram para a construção da Guará que temos hoje"

     E ele mesmo continua:

"Povo que não tem história escrita e gravada tende a desaparecer na bruma do tempo (...)."

     Com a propriedade de um filho de Guará afirmo com toda convicção, sem medo de errar, que a cidade precisa esculpir em seus livros de cidadãos notáveis, com palavras gigantes, os exemplos deixados tanto pelo Sr. Jamil Jorge quanto pela Dona Labibe Bechara. Ambos vieram de muito longe, cruzaram mares e Oceano para, ao final, adotarem Guará como sua morada de toda a vida no Brasil. Seus nomes não podem ser esquecidos. Sem eles, com o passar do tempo, a verdadeira história de Guará, de luta e obstinação de seus pioneiros, estará mutilada e empobrecida.
  
(Esquina da R. Dep. João de Faria c/ Carlos de Campos - marido e 4 dos filhos da Sra. Labibe Bechara - foto da década de 1930 em arq. familiar)