terça-feira, 20 de dezembro de 2011

NÓS TODOS SEGUIMOS JUNTOS


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR E ASSISTIR)
(Paul McCartney and the Frog Chorus - "We all stand together")
https://www.youtube.com/watch?v=PcDVH8DiBnM


     Recebo do João uma mensagem, do Ian um cartão, da minha mãe um telefonema, da minha esposa seu amor, dos meus filhos seus bons olhares, da minha tia um elogio, do Abrahão a solidariedade, da minha irmã um sorriso, do Romeu uma gravação, do Charles um brinde, do Ricardo “feliz Navidad”, do Nanão a amizade, do Rossi a simpatia, do Adilson um CD, do Zé um livro, da Estela um abraço, do Mobi a consideração, do vendedor uma bala, do desconhecido um sorriso... e muito, muito mais... de tanta gente...

     Fico olhando nas ruas, nas lojas, as pessoas escolhendo alguma coisa para presentear a família, os amigos... Gosto disso. Nessa época do ano todos nós levamos no pensamento as pessoas que nos são caras - e queremos agradá-las, vê-las contentes. São todos gestos de consideração, de carinho, de amor e amizade. É o período de maior pureza e bondade espalhadas por todos os lados. Os litígios formais são deixados de lado...   

     Além de saúde, do que mais precisamos nós senão da capacidade de sabermos reconhecer que estamos rodeados de gente querida que nos quer bem?

     Sigamos juntos. Estamos vivendo o mesmo tempo e passando pela vida com a mesma ânsia de sermos felizes. Somos os autores da nossa própria história, e temos o privilégio de podermos contar uns com os outros. Sigamos juntos... no espírito de Natal:

“Vencer ou perder,
Naufragar ou nadar,
Uma coisa é certa: nós nunca desistiremos.
Lado a lado, de mãos dadas,
Nós todos permanecemos juntos!”

     A todos, desejo um Feliz Natal!

(RP, 20dez2011)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

BOSSA-NOVA EM CORBRIDGE

(Sinatra & Jobim, 1964 - "Corcovado", "Change Partners", "I concentrate on you", "The girl from Ipanema") 

Ah!!.... mas que delícia ver e ouvir isso. Ene vezes, milhares de vezes... Sinatra & Jobim, a bossa-nova sendo apresentada nos Estados Unidos. A música garbosa, elegante, o tom intimista, a delicadeza do violão, o Frank Sinatra – adequando-se ao estilo - sussurrando melodias de bossa nova, admirando o Tom...

Quando fui para a Inglaterra pelo Rotary, além de um belíssimo CD da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto interpretando bossa-nova, levei também algumas coletâneas de música brasileira. Era meu desejo presentear com música as pessoas que eu encontrasse e  que demonstrassem bom gosto musical. A primeira gravação do CD de coletâneas era “Garota de Ipanema”, na voz do Frank Sinatra e do Tom Jobim.

Ao conhecer o Ian e a Sue em Corbridge, percebi nos dois sensibilidade para a música: a evidência? um poster da capa do LP “Help” dos Beatles que tinham na parede da sala. Conversamos sobre o Brasil e sobre música além de muitas outras coisas... Expliquei a eles os valores da bossa-nova, o céu, o mar, o barquinho, o sol... expliquei também o ambiente ideal para se ouvir bossa-nova: uma sala pequena, voz, violão... uísque e cigarro (para os que fumam). Ouviram-me com atenção britânica. Presenteei-os com uma cópia de cada CD.

(Estação de Corbridge - arq. pessoal - 05/out/2011)

Em uma das noites em que estive hospedado na casa deles, logo depois de um dia de muitas visitas cumpridas, encontrei os dois sentados em silêncio na sala de música. Tomavam uísque e ouviam em silêncio a gravação de “Garota de Ipanema” que eu havia lhes dado. Estavam encantados com a batida do violão. O Ian, beatlemaníaco dos bons, pediu-me então para também me sentar, ouvir música e tomar uísque com eles. Em seguida, enchendo meu copo, trouxe-me um violão e pediu-me para mostrar-lhe como puxar as cordas na mão direita para conseguir a batida de bossa-nova. Exemplifiquei com os acordes de “Garota de Ipanema”. Ele, sentado no carpete, na minha frente, observava atentamente como se estivesse decifrando a coisa mais maravilhosa do mundo. Ouvimos o CD e tocamos violão até a última gota de uísque.

No dia em que fui embora de Corbridge, dentro do carro, pedi ao Ian e à Sue para que falassem qualquer coisa para que eu pudesse filmá-los e guardar suas mensagens. Para minha surpresa e alegria, o Ian nada falou: cantou “Garota de Ipanema”. Percebi então que havia nascido ali, naquela parte da Inglaterra, um novo apreciador de bossa-nova.   

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PONTOS DE REFERÊNCIA


(CLIQUE PARA OUVIR)
("Milonga del Angel", Astor Piazzolla)

     Do outro lado da rua, bem na direção do meu escritório, há três palmeiras imperiais bem altas. Quando me distraio olhando através da vidraça, é para elas que meu olhar se direciona. Essas três palmeiras sempre me trazem outras árvores que, em algum dia, em algum momento, já me serviram de referência.

     Eu me recordo que depois dos muros da minha escola primária, dando para cada uma das suas ruas laterais, havia duas árvores enormes. Não sei dizer se eram seringueiras... Sob suas sombras ficávamos aguardando o início de nossas aulas. Já eram antigas e enormes naquele tempo. Mirando as palmeiras e revendo na memória essas árvores da minha escola primária, o pensamento viaja:

Olha estas velhas árvores, mais belas
do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
vivem, livres de fomes e fadigas;
e em seus galhos abrigam-se as cantigas
e os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,
agasalhando os pássaros nos ramos,
dando sombra e consolo aos que padecem!¹

("uma velha árvore na rodovia" - arq. pessoal, jun2010)

     Gosto de rever as árvores que me servem de referência. Ao revê-las tenho de volta tudo o que sua lembrança evoca e suscita. Há sempre comunicação e ensinamentos transformadores entre árvores e homens que observam.

     "Outoniza-te com dignidade, meu velho", concluiu uma amendoeira quando inspirava no Drummond o aprendizado de que "o outono é mais uma estação da alma que da natureza"

     Da mesma forma, quando o Rubem Braga percebeu que um pé de milho empendonou-se em retribuição a um gesto seu, observou com alegria³:

     "(...) não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador (...)."

     E flutuando assim, com o pensamento vagando pelas palmeiras, ressurge-me também a mangueira de tronco forte e galhos frondosos que havia no quintal de minha casa. Cuidávamos bem dela e brincávamos em seus galhos com laços de corda e balanços de madeira. Era com folhas e frutos que retribuía as atenções que a ela dedicávamos. Nas festas de aniversário nós a enfeitávamos de luzes, e sob seus galhos nós nos confraternizávamos com amigos e familiares. Provocada pelo vento, e em madrugadas chuvosas, eu louvava sua existência anunciada pelo barulho de suas folhas. Quando acordávamos nas manhãs que se seguiam, o chão forrado de folhas e frutos caídos evidenciava as batalhas que ela enfrentava para atravessar a noite ao nosso lado.

     As árvores que nos servem de referência têm o poder de congelar nosso tempo interior. De existência mansa e constante, elas acompanham nossa passagem como se  fossem depositárias de nossas histórias e de nosso tempo.

     Aos que me perguntam, situo meu escritório bem em frente às três palmeiras, como se não houvesse mais nada por ali que, estando vinculado a mim, pudesse servir de referência. Porém, explicando a um amigo onde estava situado meu escritório, surpreendi-me ao ouvi-lo concluir que ele se localiza no quarteirão da avenida onde há cinco bananeiras na esquina.

     Essa observação me encantou. Afinal, "árvore nova, histórias novas, vida nova!", pensei.

     Quantas árvores podem encerrar uma identificação relativa à nossa existência? A árvore simboliza a vida em si. Uma nova árvore representa um universo de novas histórias e identificações. Fui procurá-las. Minhas novas árvores. Eram pequenas. Nunca as havia notado. Fiquei contente ao ver que eram novas e que ainda vão crescer e dar frutos. Eu não imaginava que aquelas pequenas bananeiras na calçada de uma avenida de cidade grande poderiam servir de referência a algo relativo a mim.

     Pois agora eu as observo de longe, com atenção e cuidado, percebendo que um cacho de frutos está brotando de uma delas...

("Uma bananeira na esquina" - arq. pessoal, 05dez2011)

____________________________________ 
¹ - Olavo Bilac – “Velhas Árvores”
² - ANDRADE, Carlos Drummond de. Fala Amendoeira. Rio de Janeiro, 10ª Ed., Record/1986
³ - BRAGA, Rubem. 200 Crônicas Escolhidas. Rio de Janeiro, 6ª Ed., Record/1986

RP, 06dez2011

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UÍSQUE ESCOCÊS


Quando o David –um dos meus anfitriões na Inglaterra- me disse que iríamos para a Escócia, passando pela fronteira terrestre, logo imaginei uma série de formalidades burocráticas. Passaporte, visto de entrada, investigações, perguntas sobre dinheiro etc etc.

        - “Mas, David” – eu disse a ele -, “não tenho visto para entrar na Escócia!”

Sem explicar nada ele sorriu para mim com jeito de quem estava fazendo alguma “arte”. Na verdade, logo descobri que estava mesmo. Mas era uma arte “doméstica”, digamos. Não poderíamos demorar. Afinal, ele havia saído de casa exclusivamente para ir buscar-me em um escritório, e em seguida voltaria direto para casa. Sua esposa nos aguardava.

        Com um sorriso de jovem octogenário, e ainda sem explicar nada, ele acelerava o carro e seguia em frente. Passamos por um restaurante em uma rotatória na estrada e ele chamou-me a atenção para a placa onde estava o seu nome e a sua publicidade: “The first and the last”.

        - “The first” – esclareceu-me ele -  “porque é o primeiro restaurante para quem vem da Escócia; e “The last” – complementou -,  “porque é o último para quem sai da Inglaterra”.   


Sem saber o que iria ver nessa fronteira, fiquei pensando e visitando meu imaginário. Uma fronteira entre países me remete a um  bloqueio no meio de uma estrada, policiais, cães de guarda, muros altos, funcionários burocratas mal encarados. É interessante como nosso imaginário funciona. Não é por menos! Afinal, as imagens das fronteiras que vemos em fotos nos nossos jornais não são nada boas: fronteira de Israel com o Líbano; fronteira do México com os Estados Unidos; fronteira da Coréia do Norte com a Coréia do Sul...

Em uma questão de minutos, menos de cinco, o David me apontou a bandeira de Escócia.
  
- Pronto, chegamos! – disse-me ele.

- Ué, mas é aqui? É isso? Só isso? – comentei espantado.
(Fronteira: Inglaterra / Escócia - a caminho de Eyemouth - arq. pessoal - 07/out/11)
(Placa na rodovia: Benvindo à Escócia - arq. pessoal - 07/out/11)

Não podia acreditar. Era tudo muito simples. Não tinha nada além de uma placa, uma bandeira bem alta, e uma pequena mureta simbólica na qual estava escrito: “Scotland” de um lado, e “England”, do outro.

Por sugestão do David encostei-me na muretinha, com um pé na Escócia e o outro na Inglaterra: fotografamos. Fotografamos a bandeira, a mureta, a placa, a estrada, tudo... Fiquei feliz e emocionado por estar ali. 

 (Com um pé em cada país: Inglaterra / Escócia - arq. pessoal, 07/10/11)

Fomos breves porque estava começando a chuviscar. Minha vontade era de ficar por muito tempo com um pé em cada país, para fazer durar aquele momento.

Ainda com as costas na muretinha eu me lembrava do meu tio Náufal. Ele, além de ser “um bom papo”, era um bom consumidor de uísque escocês e costumava dizer:

- Uma boa conversa é sempre regada a uísque. Mas tem que ser escocês...

Com essas lembranças vi que o David entrou no carro. Voltei “prá real” e entrei depois dele.

- “Nós voltaremos aqui outras vezes”, disse-me ele.

Seguimos para sua casa com a sensação de termos feito algo bom, algo que se eternizaria. Minutos depois, saindo do carro com o paletó molhado de chuva, sou apresentado à sua esposa, Audray. Ela, após os cumprimentos e observando nossa roupa molhada, sorriu e nos ofereceu:

- “Vocês querem chá ou uísque escocês?”

De imediato e instintivamente respondi: “uísque escocês, of course!”

Fui servido em dose dupla, sem gelo. Em nome de tudo e de todos levantei-me da cadeira, ergui o copo e fiz um brinde:

- A um mundo sem barreiras, aos meus anfitriões, e à amizade entre os povos: Cheers!

E começamos a conversar...

 (Com meus anfitriões, no "The first and the last" - arq. pessoal, 08/10/11)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A RUA E O PIANO EM UM DIA DE FINADOS

("Le lac de come" - C. Galos op.24) 

Em dia de finados a memória dos mortos promove a reunião dos que ainda estão. Retorno à minha terra. Na avenida de entrada me recebem as casas e as árvores alinhadas, verdadeiras testemunhas do meu tempo ali estancado. Elas fazem emergir não simples lembranças, mas especialmente presenças permanentes e intensas que o ritmo das cidades maiores não consegue levar.

Sou do interior. Aprendi, por natureza, a dar ouvidos e atenção ao que se manifesta ao meu redor. Nada me é indiferente. Em um infinitésimo de segundo um detalhe qualquer provoca a ressurreição de sons familiares e constantes que se foram: o badalar de um sino de igreja, o apito de um trem, um rangido de porta... Tudo, enfim, embutido em meu arsenal de vivências, reaparece involuntariamente para promover uma confraternização do que foi com o que tem sido.

Seguindo pela entrada, cruzando as palmeiras que substituíram os trilhos da estrada de ferro, virei à esquerda para a minha rua. Todos estavam lá: as árvores, os portões, os postes, os fios de eletricidade. Parei em frente da minha casa de infância e, ao sair do carro, ouvi acordes de piano. Por um instante aqueles sons me confundiram; por um momento não sabia dizer se os acordes eram sons do passados ou presentes.

(Minha rua - 02/11/2011 - foto: arq. pessoal)

Houve um tempo na minha rua em que as teclas de um piano davam vida às suas tardes preguiçosas. Valsas, serestas, canções russas, tardes inteiras, repetidas vezes... "Le lac de Come", "Branca", "Tardes de Lindóia", "Olhos Negros"... Eram poucos os pianos, apenas um maestro, uma professora, muitas alunas - dentre elas minha mãe e minha irmã. 

Fiquei parado na porta do carro, atento, tentando identificar a sequência de acordes que ouvia: "Tico-tico no fubá", do Zequinha de Abreu! Eram acordes reais, presentes. O andamento estava lento, mas isso não me incomodava. Imaginei que talvez o piano tivesse estado silente por algum tempo, por alguns anos, por algum motivo. Mas o que importava mesmo era que alguém retomava suas teclas, fazia com que elas dançassem, e enchia a rua de alegria.

Compreendo que reiniciar algo requer paciência e determinação. Todos nós temos algum motivo para, em algum momento, nos desviarmos de algo. Mas temos também instintos potenciais que nos fazem revisitar habilidades deixadas de lado. Os dons naturais insistem para que não sejam sepultados, para que sejam retomados para novos recomeços. A habilidade e a sensibilidade para a música fazem a vida ir além do que ela é. "A arte existe porque a vida não basta", diz, com sabedoria, Ferreira Gullar. Instintivamente, no meu pensamento, complementa Arthur da Távola: "Música é vida interior; e quem tem vida interior jamais padece de solidão."

Ainda ouvindo os acordes de "Tico-tico no fubá" fui recebido na calçada por minha mãe. Ao redor, as árvores e as plantas esbanjavam vitalidade. Fotografei. Foi um privilégio abrir o portão de casa ouvindo o som de um piano, naquela rua, naquela vizinhança. Entrei em casa mais contente, cheio de alegria. Pela música pudemos celebrar a vida ao redor de uma mesa posta com café e bolo de laranja, em dia de finados.

Gostaria que as tardes da minha rua voltassem a ser assim: alguém tocando piano, a vizinhança ouvindo atentamente... Afinal, há ali pessoas de talento que, por inspiração própria e um certo dom que as diferencia, conseguem dar ao seu universo uma dimensão que vai além da ciência. Tornam-se, portanto, sem que o saibam, e sem que tenham essa pretensão, uma doce referência.

RP, 02nov2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

“HADRIAN’S WALL” – A MURALHA DE ADRIANO E A MURALHA DE TODOS NÓS


“(...) Seremos tanto mais nós mesmos quanto mais formos iguais em nossas diferenças.”
(Mário Chamie na apresentação de “Ingleses no Brasil” – de Gilberto Freyre)

Acho primitivo pensarmos hoje na edificação de muralhas para a demarcação de territórios – ou para proteção do que quer que seja.

Uma muralha representa uma barreira, uma procura por controle, um desejo de dominação, um gesto de prepotência, como se pudéssemos ser donos, dominadores ou proprietários de alguma coisa além dos nossos anseios, pensamentos e sonhos.
  
Mas eis que anteontem, em viagem de estudos no norte da Inglaterra, depois de uma manhã na Abadia de Hexham sob um frio glacial, recebo de meu amigo anfitrião a informação de que íamos visitar a “Muralha de Adriano”.

- “Caraca”... pensei, ”mas será mesmo aquela Muralha descrita nos livros de História, construída pelo imperador Adriano lá no fim do mundo?”

De fato. Era. Dei-me conta de que estava ali pertinho. Lembrei-me do tempo do colégio quando li muito vagamente sobre a existência dessa Muralha construída para proteger dos bárbaros o extremo noroeste do Império Romano. Sua imagem não havia ficado na minha mente tão fortemente gravada quanto a da Muralha da China ou do Muro de Berlim. Não havia me atentado para a dimensão de seu significado e importância. Revi naquele momento minhas antigas professoras de História no ginásio e no colégio e, com elas, o ressurgimento do Império Romano.

De Hexham, então, rumamos para o Norte, passando por aldeias minúsculas com casas feitas de pedras cinzentas às margens da rodovia, e por muitos campos com criação de ovelhas. Pela direção do olhar involuntariamente lançado e pelo sentido do pensamento, percebi que se confirmavam as impressões de G.M. Trevelyan quando ele se referia à região, com senso de liberdade e espaço, como sendo uma “terra de horizontes distantes”.

(olhar perdido em uma "terra de horizontes distantes" - arquivo pessoal)

Depois de um tempo deixamos a rodovia e, passando por uma porteira, subimos por uma estrada estreita. No alto do morro, tremendo de frio, desci do carro para entrar em um pequeno museu da Muralha onde havia cartões postais, mapas, guias, chaveiros, painéis, fotos...


(placa na entrada do Museu da Muralha de Adriano - "Fronteira do Império Romano" - patrimônio da humanidade - arquivo pessoal)


Lá fora, olhando mais adiante pela janela do museu, estava a Muralha viva em pedras mortas.

(Muralha de Adriano: A Muralha viva em pedras mortas - arquivo pessoal)

Ali sim fui além da ficção e senti na pele o verdadeiro significado de um morro onde uivam os ventos. Não poderia, de forma alguma, deixar de ter contato físico com as pedras daquele local. Saí todo agasalhado para lutar contra o vento, a chuva, o terreno íngreme e o frio - os verdadeiros bárbaros daquela tarde. Equilibrando-me, ouvindo explicações do guia, deixei o olhar estender-se até o horizonte distante, naquelas pedras que foram um dia a demarcação do limite das conquistas do império romano. Senti sob os meus pés a história do que aquela muralha significou. Muito dela ainda está preservada, apesar de não representar mais o limite físico de um império. Virou atração turística. 


 ["A História sob meus pés" - na foto com um dos guias (de azul) e companheiros de visita - arq. pessoal]
                                  
Depois de algum tempo voltei sozinho e congelado para o carro. Os pensamentos e as comparações foram inevitáveis e, de alguma forma, me desviaram da sensação de desconforto pelo frio. As pedras sem vida, umas sobre as outras, me pareciam gente. Na minha mente estava a visão dos homens de hoje laborando individualmente na construção de muralhas imateriais ao seu redor, contrastando e se assemelhando com os homens daquela época quando construíam muralhas físicas. São elas, as muralhas de hoje, os obstáculos defensivos que nos impedem de sermos e conhecermos seres inteiros; são muralhas invisíveis intransponíveis - pedras brutas ou polidas aglomeradas que dão a falsa idéia de fortaleza: indigno retrato de temores e dificuldades nas relações humanas. Há nas muralhas invisíveis o desejo de proteção e segurança; transmitem uma frieza calculada, superficialidade.

Meu anfitrião entra no carro dizendo que também sentiu frio. Instintivamente digo a ele que aquela visita nos fez bem; que ela nos ensinou a preferirmos muralhas desmoronadas - como a “Muralha de Adriano” - e impérios caídos - como o Império Romano, pois representam mais fielmente as fraquezas humanas; apontam para nossa vulnerabilidade, para o nosso desamparo, para a fragilidade da nossa existência...  

Berwick-upon-Tweed, 07out2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

DEAR QUEEN: HERE WE GO !!


 ("Mull of Kintyre" - Paul McCartney - 1977)

Tem sido com muito entusiasmo e envolvimento que tenho me preparado, na qualidade de líder de um grupo de profissionais mais jovens, para participar do programa de Intercâmbio de Grupo de Estudos (IGE). O programa será desenvolvido no Reino Unido - mais especificamente na Inglaterra -, e terá a duração de um mês contado a partir do dia nove de setembro.

Nesse período seremos recebidos pelo Distrito 1030 do Reino Unido. Esse Distrito abrange uma área territorial no extremo Norte da Inglaterra, muito perto da Escócia, e compreende clubes da Grã Bretanha e Irlanda.

No período em que estivermos participando do Programa, a cidade inglesa de Newcastle-upon-Tyne será uma espécie de “comando central” de todas as nossas atividades. Pelo que sabemos, essa cidade prosperou e ficou conhecida por sua indústria de construção naval e de mineração de carvão. Hoje, a cidade é famosa pelas atrações de sua herança industrial e pelos projetos de reurbanização.

Pois partindo de RP no dia nove de setembro, chegaremos em Newcastle no dia dez. Já com toda programação elaborada pelos companheiros ingleses, cidade por cidade, período por período de cada dia, os locais que iremos visitar, a duração de  cada visita, os nomes, endereços e telefones dos r. que nos hospedarão, nosso Grupo partirá para iniciar o Programa já sabendo, inclusive, o que nos será servido no jantar do dia quatro de outubro em uma reunião - pois o cardápio já nos foi enviado para fazermos nossas opções! Tudo exatamente como temos guardado em nosso imaginário em relação aos ingleses: “all planned and perfect!”

 Pelo programa que recebemos, nosso Grupo será hóspede de seis R Clubs diferentes, em períodos diferentes, e em diferentes cidades da Inglaterra. São eles: R Club of Tyneside, RC of Stokesley, RC of Newton Aycliffe, RC of Seaburn, RC of Tynedale, RC of Berwick-upon-Tweed.

Do dia 16 ao dia 18 de setembro, inclusive, participaremos da Conferência Distrital comemorativa dos cem anos do Distrito 1030, a qual será realizada na cidade histórica de York. Nessa Conferência, teremos a responsabilidade de apresentar nosso Distrito, nossas atividades, e o nosso país. E é com muito orgulho e senso de responsabilidade que o faremos. Afinal, se por um lado temos a possibilidade de aprender muito do que é a Inglaterra e seu povo, por outro lado levamos em nossa bagagem um país alegre, rico culturalmente e por natureza, aberto para o convívio de todas as culturas e raças.

Dentro do programa há também a programação de uma estada de dois dias na cidade de Londres. Certamente com isso poderemos conhecer a dinâmica da capital inglesa com todas as suas características, tendo ao lado companheiros anfitriões envolvidos e comprometidos exemplarmente com os ideais do R. e de sua Fundação.

É, portanto, uma honra e uma responsabilidade muito grande essa de, juntamente com os Membros selecionados, representar nosso Distrito. Tenho a noção do que tudo isso representa, e do elevadíssimo grau de comprometimento e envolvimento que o programa requer.

Com o forte desejo de representarmos bem nosso Distrito – e, por conseguinte, nosso país -, eu e os Membros do IGE-Inglaterra partimos querendo observar, aprender, respeitar e compartilhar com muita gratidão tudo o que desde já nos está sendo oferecido para, quando regressarmos, podermos transmitir o resultado desse período aos nossos companheiros do Distrito 4540.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA: MINHAS IMPRESSÕES A RESPEITO DA CIDADE DO MÉXICO - VI


("La Adelita" - louvando a participação da mulher na revolução mexicana)

Benito Juarez, Emiliano Zapata, Pancho Villa, Francisco Madero, Porfirio Diaz, e tantos outros nomes sempre foram para mim personagens de livros de História e das telas de cinema. Um belo dia, caminhando por uma estação de metrô, me dou conta de seu nome: “ZAPATA”. Há gente por todo lado, numa movimentação nervosa de cidade grande. Afasto-me um pouco da multidão, encosto-me em um canto qualquer, e me detenho a observar aquela agitação toda. Sem querer sou levado em pensamento à entrada do único cinema de Guará – o “Cine Guará” -, em meados dos anos 60 nas matinês de domingo, quando havia troca de gibis entre toda a meninada: Mandrake, Fantasma, Luluzinha, Capitão Marvel, Tio Patinhas, Zorro, Príncipe Valente e muitos outros. Pois foi no Cine Guará que pela primeira vez assisti “Viva Zapata”, filme de 1953 dirigido por Elia Kazan, que conta a história de Emiliano Zapata -  líder da revolução dos lavradores mexicanos contra a dominação dos grandes proprietários de terras que haviam tomado as terras dos camponeses.

Seguindo pelas estações, mais a frente, observo as imagens que ilustram seus nomes. Chego à Estación Juarez. Homenagem a Benito Juarez, estadista liberal mexicano que resistiu à ocupação francesa, derrubou o imperador Maximiliano, e restabeleceu a república: é lembrado como o maior e mais amado líder mexicano.

        Movido por essas histórias e esses meus pensamentos, dedico minha tarde a visitar o Museu Nacional de História, no Bosque de Chapultepec, do outro lado do Museu de Antropologia. Chego ali depois de passar pelo Monumento aos Meninos Heróis.

("Monumento aos Meninos Herois" - arq. pessoal)

É início de uma tarde de quarta-feira e o local está movimentadíssimo. O Palácio Nacional – que é o prédio onde está o Museu - foi construído no topo de um morro de onde se pode ver, além do Monumento aos Meninos Heróis, uma boa parte da Cidade do México.

(Vista da cidade, a partir do Palácio Nacional - arq. pessoal)

Esse Palácio foi inicialmente uma mansão de repouso, em seguida adaptado para sede militar, e depois residência oficial de vários presidentes republicanos - inclusive do imperador Maximiliano. Por fim, tornou-se o Museu Nacional de História em 1944. 

 


(vista da entrada do Palácio - arq. pessoal)


         Chegando ali minha ansiedade era muito grande para conhecer tudo. Iniciei meu passeio pelas salas onde estão as carruagens de Maximiliano e Benito Juarez - este, que exerceu grande parte de seu governo republicano dentro dessa carruagem.

(Carruagem de Benito Juarez - arq. pessoal)
       
        Passado o hall de entrada com as carruagens, o acesso à parte superior do Palácio é por uma escadaria com murais que ilustram a História do México.




 (Escadaria de acesso ao piso superior, com murais da História do México)

Das escadarias pode-se ver nas paredes também, além de outros, dois murais de Antonio González Orozco ilustrando a entrada triunfal de Benito Juarez no Palácio Nacional acompanhado de seu gabinete.



(Mural superior: entrada de Benito Juarez; Mural inferior: combatendo as forças francesas)


        Internamente, as salas são majestosas: sala de leituras do imperador Maximiliano, sala de jogos dos governantes que ali moraram, sala de reuniões de sobremesa e “fumódromo”, sala de jantar, sala de retratos, salão de chá e muitas outras salas. No piso superior, belíssimos são os vitrais que mostram as elegantes figuras de cinco deusas que encarnam na mitologia os atributos femininos. 



 (Vitrais com deusas da fertilidade - arq. pessoal)

        Na parte mais alta do Palácio está o Jardim de Alcazar, local predileto do imperador Maximiliano quando ali viveu.

(Jardim do Palácio - Alcazar - arq. pessoal)

        É, enfim, um lugar maravilhoso. Da sacada do Palácio, o que se vê é de grande beleza.

(Vista a partir de uma sacada do Palácio - arq. pessoal)

 Ao passar por aquele edifício, a imagem que me veio foi a do momento em que o então humilde povo mexicano, sustentando a república, depara-se com a imponência do Palácio e aprisiona o imperador Maximiliano. Ao mesmo tempo, a imponência do Palácio com a visão de uma capital pela frente contrasta-se com a porta de entrada do Cine Guará: adentrá-lo significava correr o mundo pela tela de um cinema. Foi ali que, em “Viva Zapata”, pela primeira vez, vi esse Palácio – hoje o Museu Nacional de História.

        Saí do Museu já no final da tarde carregado de personagens e histórias. Caminhando vagarosamente pelo enorme e movimentado Bosque de Chapultepec, comprei um saquinho de pipoca e, comendo, segui pensando na grandeza das coisas construídas pelo homem, suas histórias, seus feitos, sua ambição de poder... Mas pensei também na grandeza maior ainda existente nos homens que, sem construir edifícios materiais, erguem templos às virtudes e dedicam-se às causas que beneficiam e dignificam um povo todo - e que, porisso, merecem ser eternizados.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

EM NOME DO PAI E DO FILHO

(Piero - "Mi Viejo" - 1969)

De junho para cá meu carro apresentou problemas. Impossibilitado de escapar dessa realidade fui à oficina do “Seu” Pedro - um senhor calvo, uns sessenta anos, baixinho e sorridente - “meu” mecânico há muitos anos.

Orçamento apresentado e sem muita argumentação da minha parte, aprovei o serviço na certeza de que o carro ficaria “tinindo” - conforme ele costuma dizer.

        Dois dias depois o carro estava pronto, mas com a recomendação de que eu ficasse de olho no reservatório de água: se o volume diminuísse, seria necessário realizar outro serviço. Não deu outra: era só parar para abastecer que o frentista me alertava: “precisa completar a água”.

        Levei o carro de volta ao Seu Pedro e ele, com a firmeza de general, me falou: “Eu não disse? Temos que fazer a retífica da peça, trocar a vedação, perepepê, perepepê...”.

Conformado com a história, e já prevendo um novo gasto, deixei novamente o carro com ele. Voltei para buscá-lo dois dias depois com outros setecentos reais a menos no meu bolso.

“Tem garantia!”, disse-me ele.

“Paciência”, pensei, “carro é assim mesmo...”

        Conforme utilizava o carro eu sentia um cheiro de queimado cada vez mais forte vindo do motor. Fui cuidando do nível de água até que o medo do carro pegar fogo falou mais alto: Levei o carro novamente na oficina.

        Contudo não engoli dessa vez os argumentos do Seu Pedro, e contra argumentei com muita objetividade:

“Quero esse carro hoje, e sem enrolação. Não tenho mais “saco” de vir aqui toda semana”.

Ao perceber o blá blá blá que não tinha fim (e um aparelhinho de surdez no ouvido dele), vociferei mais alto ainda, com o dedo em riste, exigindo o serviço bem feito.

        Sem mais o que dizer e me vendo bravo daquele jeito, ele, envergonhado e incomodado pelo serviço que teria que ser refeito, pediu para um funcionário da oficina levar-me de volta ao meu escritório.

        Percebi que o rapazinho no carro comigo – Daniel -, que havia observado tudo, era filho do Seu Pedro e parecia estar chateado. Naquele momento pensei no meu filho e nas questões que envolvem o relacionamento entre pais e filhos. Coloquei-me no lugar do Seu Pedro e me lembrei de todas as outras vezes que ele me atendeu prontamente no conserto de carros. Imaginei o meu filho observando alguém falar alto comigo, exigindo que eu cumprisse o meu dever. Alguma coisa me dizia que eu havia exagerado no meu desabafo...

Dizem os livros que nessa fase da vida do Daniel – e do meu filho -, vinte anos de idade, o pai é tudo o que o filho não quer ser. Somei a isso o desconforto do Seu Pedro levando uma bronca minha sob os olhares do seu filho. Pensei também na vida familiar dos dois, Seu Pedro e Daniel. Vi em mente ambos sentados à mesa do jantar prestes a comentarem os acontecimentos do dia. Vi também o Seu Pedro cabisbaixo, sem jeito de “tocar no assunto”. Pensei na dificuldade que ele poderia ter para dialogar com seu filho, e em como poderia estar se sentindo pequeno.

Incomodado com esses pensamentos, e sem que eu notasse, senti meu coração expor suas razões: disse ao Daniel que gostava muito do pai dele – que de fato gosto -, que o admirava como bom profissional que sempre foi, que ele cuidava do meu carro havia muitos anos, e que problemas assim acontecem mesmo... Que, por fim, ele poderia admirar seu pai, sua dedicação, e seu trabalho.

        Chegando ao meu escritório meio angustiado com essa história, peguei o telefone e liguei sem motivo aparente para o meu filho. O simples fato de ouvi-lo sorrir e me chamar de “pai” ao responder meu telefonema serviu para eu me sentir um pouco menos desconfortável...

        Hoje o Seu Pedro me trouxe o carro. Não comentamos nada do nosso último “encontro”. Não cobrou nada. Na hora de ir embora olhou para mim e disse:

“Agora o carro está ‘tinindo’!

Ambos sorrimos um para o outro, e eu lhe respondi:

“’Tinindo’ nada. Parece que dessa vez ‘tinindo’ é pouco!”.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O MUSEU NACIONAL DE ANTROPOLOGIA: MINHAS IMPRESSÕES A RESPEITO DA CIDADE DO MÉXICO - V


No período anterior aos espanhóis havia no México diferentes civilizações. Dentre elas, a olmeca, maia, zapoteca, mixteca, huasteca, tolteca e mexica (ou asteca). Para conhecermos um pouco desses antigos habitantes do México e da sua história, o que há de mais indicado é uma visita ao Museo Nacional de Antropologia que fica no bosque de Chapultepec. Pois para lá fomos nós. Tomamos o metrô e descemos na estação Auditorio, bem na entrada do Bosque. A avenida que separa o Museu do Bosque (Paseo de La Reforma), nesse trecho, é verde e úmida: há árvores por todos os lados. Caminhamos. A nossa direita, o Bosque; à nossa esquerda, o Museu.

(Avenida entre o Bosque e o Museu: Paseo de la Reforma - arq. pessoal)

Chegando no Museu, bem na calçada da Avenida, está o monolito que representa Tlátoc, o deus da chuva para os astecas. É uma peça enorme e belíssima. 

 (Monolito que representa o deus da chuva - entrada do Museu - arq. pessoal)

Na fachada de entrada do Museu está o escudo nacional do México: uma águia pousada sobre um cacto, com uma cobra no bico.




(foto de cima: entrada do Museu; detalhe - escudo nacional do México na fachada da entrada - arq. pessoal)

Entrando no Museu há um auditório, uma sala de exposições temporárias, os escritórios administrativos, uma livraria e uma loja de réplicas de peças do museu. Na parte superior, a Biblioteca Nacional de Antropologia e História. 

Logo em seguida, passando por uma porta onde compramos o bilhete de ingresso, há um enorme pátio, bem grande mesmo. Nesse pátio, chama a atenção uma enorme estrutura de concreto sustentada por um único pilar, como se fosse uma plataforma aérea sob a qual estão as muitas salas do museu. No térreo estão os achados arqueológicos do México antigo, com cada sala voltada para uma civilização ou região específica. No primeiro andar, as salas de etnografia.Tudo enorme e maravilhoso.

(pátio que dá acesso às várias salas do Museu - arq. pessoal)

(templo - ao fundo da sala dos astecas - arq. pessoal)

Além do deus da chuva na entrada do museu e de um templo asteca, eu estava ansioso por conhecer a pedra do sol, e as cabeças olmecas.  Eu havia visto uma réplica de uma cabeça olmeca pela primeira vez em Brasília, em dezembro/2010, quando conheci a embaixada do México e fiquei impressionado. Achei belíssima aquela homenagem aos antigos habitantes do México. Pude, agora, conhecer algumas cabeças olmecas originais no museu – e, claro, trouxe uma réplica para decorar meu local de trabalho.

 (cabeça que representa os chefes governantes Olmecas - arq. pessoal)

Quanto à Pedra do Sol, essa é uma paixão antiga. No Museu, essa pedra é o destaque da sala asteca. É enorme!! Belíssima! Vi várias réplicas dessa pedra quando visitei Tijuana, em 1974, e trouxe uma para presentear minha mãe. Essa réplica que trouxe, contudo, desapareceu... Pude então, agora, escolher uma outra réplica para marcar essa visita.  Essa pedra, indevidamente chamada de Calendário Asteca, conta o início do mundo asteca e traz inscrições ao redor do deus da terra ou do sol, no centro, representando os 20 dias do calendário ritual asteca - o qual tem 18 meses. Os astecas acreditavam que viviam no quinto e último sol que, para eles, era sinônimo de criação - e que já haviam existido quatro sóis. Tudo isso está entalhado na pedra do sol...

 ("Pedra do Sol" - conhecida como "Sol Asteca" - arq. pessoal)

Depois de um dia inteiro dentro do Museu, ouvindo os guias darem suas explicações (a outros visitantes), os grupos de turistas atentos, e ainda com muita coisa que não conseguimos ver, saímos lá de dentro muito cansados. Mas, na saída do Museu havia uma dezena de barraquinhas onde as pessoas se aglomeravam para ver as peças de artesanato expostas para venda... e também para comer tacos, doces, pipoca... Vimos ouro em forma de fruta: mangas!!. Havia muitas barraquinhas de frutas, como há muitas delas espalhadas por todas as regiões da cidade por onde passamos. Em especial as mangas que vendiam ali encheram minha  boca de desejo: eram cortadas em fatias e enfiadas em um copo de plástico. Amarelinhas... Não resistindo ao convite dos olhos e ao impulso do estômago, escolhemos um copo e, com um garfinho de plástico, metidos no meio daquele povo simpático, “enchemos a cara” – e a boca – de manga. Não contentes repetimos a dose, com a maravilhosa sensação de que estávamos tomados pelo espírito de todos os deuses e espíritos dos antigos habitantes do México. 

  (uma manga fatiada em um copo, na saída do Museu)

Ciudad de Mexico, agosto/2011