quarta-feira, 29 de julho de 2015

JAMES TAYLOR - "BEFORE THIS WORLD"*


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(Montana - James Taylor)


     Vocal doce, anasalado, suave e sereno; jeitão calmo e introspectivo; violão plácido e plangente: foi com esse perfil que conheci e aprendi a gostar do James Taylor. Suas baladas têm o mesmo traço desde que ele surgiu, em 1968, cantando "Carolina in my mind". Com "Fire and Rain", "Country Road" e "Sweet Baby James", gravados em álbum de 1970**, passei a acompanhar todas as suas gravações. E veio a belíssima "You've got a friend" que me fez assumir a condição de fã incondicional.

     Na juventude, por depressão, ele passou por internação hospitalar. Contratado pela "Apple Records", seu primeiro disco ("James Taylor", de 1968) foi produzido pelo Paul McCartney. Mais tarde teve dois casamentos desfeitos (um deles com a Carly Simon), altos e baixos, uma passagem memorável pelo Rock in Rio (1985), compôs a balada "Only a dream in Rio" em homenagem à cidade do Rio de Janeiro, deixou a vida seguir. E manteve-se fiel ao seu estilo.

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(Capa do disco "Before this World" - fonte: http://www.jamestaylor.com/discography/before-this-world/)

     Na semana passada eu o vi ressurgir na Folha de São Paulo***.  A reportagem trazia a notícia de "Before this World" - seu novo disco. Encontrei meus meios de ouvi-lo inteiro, várias vezes. Belíssimo! Assim como na letra de "Sweet Baby James" em que um cowboy passa um período isolado em seu rancho somente na companhia de seus animais, coloco agora para tocar o seu novo álbum e me sinto na mesma condição do cowboy, no alto de uma montanha qualquer no estado de Montana (EUA), sentado diante de uma fogueira, conversando comigo mesmo, esperando o tempo passar... 

(fonte: http://www.richardbealblog.com/cowboy-cauldron-company/)

     E enquanto espero vou ouvindo "Before this world"... "Montana", "You and I", "Snowtime", "Wild mountain Thyme"... Busco alguns de seus discos antigos que estão guardados em meu armário; fico olhando detidamente os detalhes das capas, vou ouvindo... "up on the roof", "walking man", "you can close your eyes"... 

     Mas um trechinho de "Montana", do disco novo, vai e vem no pensamento...  

"I'm not smart enough for this life I've been living
a little bit slow for the pace of the dream
It's not I'm ungrateful for all I've been given
But nevertheless, just the same..."

(Eu não sou suficientemente esperto para a vida que vou vivendo
um pouco lento para o ritmo do sonho
não que eu seja mal agradecido por tudo que me tem sido oferecido
mas, de qualquer forma, continuo simplesmente o mesmo...)

     E, sentado, com meus discos, permaneço quieto, esperando, sem vontade de sair, querendo que esse momento dure para sempre...


______________________________________
*"Before this world" - antes deste mundo
**"Sweet Baby James", 1970
***Aos 67 anos, James Taylor chega ao topo com disco único e confessional - Folha Ilustrada, 14/07/15.
      

sábado, 25 de julho de 2015

O MEU AMIGO TIGRÃO



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("Amigo é prá essas coisas", MPB-4 - de Sílvio da Silva Jr e Aldir Blanc)

Peguei o telefone e liguei para o meu amigo. Não nos vemos há muitos anos. Hoje é o dia de seu aniversário e essa lembrança o trouxe de volta para o meu pensamento. Me deu saudade. Saudade de ficarmos conversando na esquina do Itaú, falando de música, falando dos locutores de rádio, dos sambistas antigos, do tempo dos festivais, do Chico, do MPB-4, dos amigos... e esperando o tempo passar. 

O telefone chamou mas não foi ele quem atendeu. Foi alguém que me disse que não o conhecia e que tinha esse número de telefone há mais de quatro anos. 

- "Como não conhece?!? Todo mundo o conhece e o admira! Ele é amigo da cidade inteira! É certo que ele foi um goleiro 'meia-boca', mas ele sempre soube tudo de samba, sempre foi um grande percussionista, tocava caixinha como ninguém!", pensei.

Fiquei então parado por alguns minutos, simplesmente olhando para a porta de entrada de casa. Desejei que ela se abrisse de repente pelo lado de fora e que o meu amigo, em visita surpresa, entrasse com a mesma simplicidade e o mesmo sorriso "de sambista" que conquistaram a minha admiração. 

Hoje, especialmente, no dia de seu aniversário, quero dizer que me lembrei dele com saudade, desejando que ele esteja bem, rodeado de amigos, cheio de saúde e de alegria de viver.


vf_homens_cerveja02
 (fonte: https://jadiziaoamauri.wordpress.com/tag/bar/)

Em homenagem ao meu amigo Gualter - o "Tigrão" - e às muitas vezes que juntos cantamos à capela "Amigo é prá essas coisas", eu abro uma cerveja, coloco prá ouvir o MPB-4 aqui no computador e desejo a ele, com um graaaaande abraço, um FELIZ ANIVERSÁRIO!


(Eu e o "Tigrão" - foto: arq. pessoal - 2006)

sábado, 11 de julho de 2015

"CLOSE TO YOU"



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(Close to you - Carpenters)



     No balcão da loja de conveniência, em um posto de gasolina, pedi um café. Sentei-me. Na mesinha, ao meu lado direito, sem olharem um para o outro, dois senhores, formalmente trajados, comentavam o valor da venda de uma usina de álcool. Ao meu lado esquerdo, em outra mesinha, um senhor enorme, acompanhado de um outro senhor encharcado de suor, literalmente "estraçalhava" um sanduíche de pão com mortadela; o outro falava sem parar ao telefone celular. 

     Sem muita demora, a balconista veio à minha mesa e trouxe o meu pedido: uma xícara de café, bem forte, acompanhada de uma bolacha e um copo com água gaseificada. Enquanto bebia o café, eu olhava em direção à janela e observava um jovem casal em uma das mesas do lado de fora da loja: com gestos de carinho, de um para com o outro, riam muito depois de cada golada que davam em uma única garrafa "long neck" de cerveja. Ao mesmo tempo que faziam isso, olhavam um para o outro e enfiavam a mão em um pacotinho que estava sobre a mesa, contendo, ao que me parecia, algum tipo de bolachinha. Parecia que estavam banqueteando em um restaurante localizado no alto da torre Eiffel, ao mesmo tempo em que se deslumbravam com a cidade luz, vista do alto. 


"Lady and the Tramp" (A Dama e o Vagabundo) - Estúdios Disney, 1955


     Depois de terminar o meu café, fiquei ali por mais algum tempo, observando o jovem casal e pensando:

     - "A felicidade está na capacidade de nos maravilharmos com pequenas coisas; resume-se em podermos apreciar e desfrutar, com alegria, da companhia de quem está ao nosso lado". 

     Em seguida, contagiado por aquele momento de beleza que o jovem casal havia me proporcionado, levantei-me rejuvenescido e fui embora assobiando "Close to you"... 



Close To You  (Bacharach/David)

Why do birds suddenly appear
Everytime you are near?
Just like me, they long to be
Close to you

Why do stars fall down from the sky
Everytime you walk by?
Just like me, they long to be,
Close to you

On the day that you were born
The angels got together
And decided to create a dream come true
So they sprinkled moondust in your hair
And golden starlight in your eyes of blue

That is why all the girls in town
Follow you, all around
Just like me, they long to be
Close to you

On the day that you were born
The angels got together
They decided to create a dream come true
So they sprinkled moondust in your hair
Of gold and starlight in your eyes of blue

That is why all the girls in town
Follow you, all around
Just like me, they long to be
Close to you

Just like me, they long to be
Close to you

Woo... close to you..

Perto de Você

Por que os pássaros aparecem de repente
Toda vez que você está perto?
Assim como eu, eles querem estar
Perto de você...

Por que as estrelas desabam do céu
Toda vez que você passa?
Assim como eu, elas querem estar
Perto de você

No dia em que você nasceu
Os anjos se reuniram
E decidiram tornar um sonho realidade
Então eles espalharam poeira da lua em seus cabelos
E luz dourada das estrelas em seus olhos azuis

É por isso que todas as garotas da cidade
Seguem você, por toda parte
Assim como eu, elas querem estar
Perto de você

No dia em que você nasceu
Os anjos se reuniram
E decidiram tornar um sonho realidade
Então eles espalharam poeira da lua em seus cabelos dourados
E luz das estrelas em seus olhos azuis

É por isso que todas as garotas da cidade
Seguem você, por toda parte
Assim como eu, elas querem estar
Perto de você

Assim como eu, elas querem estar
Perto de você

Aah... Perto de você...


sexta-feira, 3 de julho de 2015

SAUDADE DO BRASIL


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("Saudade do Brasil" - Tom Jobim - do álbum "Urubu", 1975)


"de olhos fechados posso ir onde quiser"
(sabedoria popular)


     A cordilheira dos Andes é uma cadeia de montanhas existentes na costa ocidental da América do Sul. Ela marca a paisagem do Chile, da Argentina, do Peru, da Bolívia, do Equador e da Colômbia, estendendo-se desde a Patagônia até a Venezuela. Nunca a vi, nunca passei por ela.

     Um acidente de avião que lá ocorreu em 1972 e do qual tive notícia pelos jornais da época - e depois, com mais detalhes, li o livro* -, trouxe os Andes para o meu imaginário. Nesse acidente alguns passageiros sobreviveram e ficaram 72 dias rodeados por horizontes brancos, perdidos na neve. Para se manterem vivos tiveram que se alimentar da carne dos demais passageiros que haviam morrido.

Tragédia do voo uruguaio nos Andes
(Os sobreviventes, no momento em que foram localizados - Fonte: https://viaveneto.wordpress.com/2012/01/09/era-uma-casa-muito-engracada-no-uruguai/)

     Não sei porque penso com frequência na foto que foi tirada quando os sobreviventes desse acidente foram encontrados. Fico com o coração apertado. Sozinhos, perdidos, quase entregues... manchas negras moventes no  imenso lençol de neve.  E ao pensar nessas coisas a imagem que me vem, diferente do que se poderia imaginar, é de um oceano de gelo sem tormentas; que a ninguém proporciona sofrimento, desamparo, desespero ou solidão - só branco, vapor de água e silêncio, sugerindo a possibilidade de renascimento e renovação - como um resgate. 

     Quando ouço "Saudade do Brasil", como faço agora, volto para casa. Volto para o Brasil. Volto para o Tom e volto para o Villa-Lobos. Volto para o abraço de pessoas queridas. Com o mesmo amor desesperado que cada sobrevivente daquele acidente aéreo retornou ao seu lar; com o mesma sensação de amparo que Exupéry sentia cada vez que pousava seu avião monomotor após um voo noturno.

     Essa música consegue me colocar no litoral do Chile, de costas para o mar, com os olhos postos na Cordilheira. E por detrás da Cordilheira coberta de neve ouço vozes de anjos cantando. Para poder ouvi-los melhor subo em uma das montanhas. Lá do alto, mirando o continente, caminho para atravessar as terras frias do Chile e da Argentina. Aos poucos vou adentrando o território brasileiro, verde, rico, fértil e abundante em água - o país do meu chão e dos anjos cantores que me proporcionam beleza, alegria, e esperança.

("O Cristo", no Rio - Fonte: http://rmai.com.br/rio-regulamenta-sistema-de-logistica-reversa-de-embalagens/ )

     Meu amigo e minha amiga. A gente percebe nitidamente que o alemão Claus Ogerman** conseguiu estar no nosso país quando colocou arranjos em "Saudade do Brasil" - de autoria do Tom. Certamente foi no Brasil também que os músicos da Orquestra Sinfônica de Nova Iorque sentiram estar quando, no final de sua gravação, em outubro/75, aplaudiram de pé o seu autor***. Então agora é a sua vez. Ouça "Saudade do Brasil" sem nenhuma interferência externa. Ouça com o coração... Os anjos, ao ouvi-la, não cantam também para você? Ao ouvi-la, não sente querer reencontrar o Brasil? os rios? a mata? os pássaros? os índios? a inocência perdida? Para onde essa música te leva? Ouça e se deixe conduzir... e depois conte-me por onde esteve. Vou gostar de saber.


(Tom Jobim - fonte: http://www.precisadisso.com/2011/08/tom-jobim.html)



*READ, Piers Paul. Os Sobreviventes. Ed. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1974
**Claus Ogerman - compositor e arranjador alemão, com cidadania estado-unidense
***Conforme consta no site do instituto Antonio Carlos Jobim - http://www.jobim.org/jobim/handle/2010/8369