quarta-feira, 22 de junho de 2016

ONTEM AO LUAR*


(Catulo da Paixão Cearense - 1863/1946 - fonte: http://www.clickideia.com.br/portal/conteudos/c/44/22609)



"Todo boêmio é feliz
porque quanto mais triste mais se ilude"
(João Bosco/Aldir Blanc)


     Catulo da Paixão Cearense foi boêmio e poeta. Iludido, violão nos braços, vivia pelas ruas e pelos bares. Sua casa de madeira, com paredes de pano - "Palácio Choupanal", como ele a chamava - vivia cheia de intelectuais e boêmios. Experimentou desilusões amorosas justamente pelo desajuste da vida que levava e que o impedia de proporcionar comodidade a quem quer que fosse.

     Em um de seus desacertos amorosos, ficou arrasado até o fundo da alma. Nessa condição, assumiu, diante da sua amada, que estava condenado a carregar pelo resto da vida a dor daquela paixão**.

     - "Mas, afinal, o que é a dor de uma paixão?" - perguntou-lhe ela, na tentativa de minimizar-lhe o sofrimento.   

     Se fosse um teórico, com frieza científica, mais que depressa ele tentaria explicar. Usaria palavras, análises, gráficos, exemplos... Se fosse mais atrevido ainda, ousaria até empregar equações matemáticas para explicar "a dor de uma paixão".

     Mas explicação assim posta é inconsistente, vazia e artificial.

     Paixão não se explica. Paixão se sente.

     E mais.

     Dói, lateja; é forte: muito forte.

     A dor de uma paixão não tem explicação! 

     Não, Catulo não era teórico. Era boêmio - e poeta. Não teve resposta conclusiva. Trocou passos sob o luar do sertão, fitou o azul do céu, sentiu o cheiro de flores amorosas, ouviu o silêncio, compreendeu a razão porque nascera roxa a flor do maracujá...

     E, na tentativa de falar sobre a fonte dos seus "ais", por intermédio de uma composição musical assim abordou a dor de sua paixão: 


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ACOMPANHANDO A LETRA ABAIXO)
(Paulo Tapajós -"Ontem ao luar")


 ONTEM AO LUAR
(Catulo da Paixão Cearense/Pedro de Alcântara)

Ontem, ao luar,
Nós dois em plena solidão,
Tu me perguntaste o que era a dor
De uma paixão.
Nada respondi!
Calmo assim fiquei!
Mas, fitando o azul do azul do céu,
A lua azul eu te mostrei...

Mostrando-a a ti,
Dos olhos meus correr
Senti
Uma nivea lágrima
E, assim, te respondi!
Fiquei a sorrir
Por ter o prazer
De ver
A lágrima nos olhos a sofrer.

A dor da paixão
Não tem explicação!
Como definir
O que só sei sentir!
É mister sofrer
Para se saber
O que no peito
O coração
Não quer dizer.

Pergunta ao luar,
Travesso e tão taful,
De noite a chorar
Na onda toda azul!
Pergunta, ao luar,
Do mar à canção,
Qual o mistério
Que há na dor de uma paixão.

Se tu desejas saber o que é o amor
E sentir o seu calor,
O amaríssimo travor
Do seu dulçor,
Sobe um monte à beira mar,
Ao luar,
Ouve a onda sobre a areia
A lacrimar!
Ouve o silêncio a falar
Na solidão
Do calado coração,
A penar,
A derramar
Os prantos seus!
Ouve o choro perenal,
A dor silente, universal
E a dor maior,
Que é a dor de Deus.


     Em vida recebeu todas as glórias, todas as honras. Adorado pelo povo, foi um boêmio inspirado e feliz - que morreu na pobreza.

_______________________________ 
*Inspirado na leitura de dados biográficos do boêmio e poeta maranhense Catulo da Paixão Cearense
**Conforme conta Paulo Tapajós em https://www.youtube.com/watch?v=J973HPM_l84

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