segunda-feira, 3 de setembro de 2012

VIAGEM AO MUNDO DA LUA


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           ("Lunik 9", de Gilberto Gil, 1967)


“Poetas, seresteiros, namorados, correi!
É chegada a hora de escrever e cantar.
Talvez as derradeiras noites de luar"
(Gilberto Gil)  


     Eu tinha pouco mais de dez anos quando o homem pisou na lua pela primeira vez. Apesar da grande distância no tempo, lembro-me bem daquela noite: passei longas horas no portão de casa olhando para o céu... esperando... Estava com os nomes dos três astronautas norte-americanos, tripulantes da "Apollo Onze", gravados na mente. Mas eu não estava tranquilo. Tinha medo. Medo da escuridão que poderia resultar daquela ousadia; medo de um desarranjo generalizado no nosso planeta; medo do fim do mundo.

     Nessa época eu passava muitas tardes datilografando textos e ouvindo discos no escritório do meu tio Náufal. “Lunik 9”, do disco “Louvação” do Gilberto Gil (1967), era uma das músicas mais frequentes. Composta ainda sob o impacto do pouso da primeira sonda soviética na lua em 1959, e pela possibilidade do homem pisar em solo lunar nos anos seguintes, foi "Lunik 9" a responsável por inúmeras imagens atormentadoras que fantasiei.

     Era tempo da "guerra fria"; disputava-se, inclusive, a posse do desconhecido mundo lunar. Enquanto isso o Gilberto Gil ponderava. Dividido, aplaudia a ciência e hesitava entre a exploração, o encantamento, a incerteza e o medo.

     Temendo pela possibilidade de desaparecimento definitivo do luar, Gil, em “Lunik 9”, conclamava os poetas, seresteiros e namorados a cultuarem as noites enluaradas:

"Poetas, seresteiros, namorados, correi!
É chegada a hora de escrever e cantar;
Talvez as derradeiras noites de luar."


     Sem saber onde o início da conquista do espaço ia dar, o Gil refletia e também me fazia refletir:

"Talvez não tenha mais luar
Prá clarear minha canção.
O que será do verso sem luar?
O que será do mar, da flor, do violão?"

     Na conclusão, com a lucidez do homem em sua pequenez diante da imensidão do espaço infinito, o Gil concluía:

"Tenho pensado tanto, mas nem sei..."
     Esse nem sei do Gil doía, era torturante: retratava a ignorância humana diante dos mistérios do universo... 

     E ali no portão de casa, enquanto eu olhava para a lua, ficava pensando na última frase da letra da música:

"Talvez as derradeiras noites de luar..."

     Sofrendo assim com a mensagem de “Lunik 9” e a perspectiva de fim do mundo na minha cabeça, entrei em casa. Diante da TV meu pai, minha mãe, e minha irmã acompanhavam as chamadas para a transmissão do pouso da "Apollo 11" em solo lunar. A minha ansiedade em saber das consequências do pouso era grande. A TV não ajudava muito; no som e na imagem vindos da tela predominavam os ruídos e "chuviscos" em preto e branco.

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 (Video da chegada do homen na lua - 21/07/69 - fonte: youtube)

     Em algum momento entendemos que um astronauta (Armstrong) havia pisado na lua.


(Neil Armstrong - fonte: aerospaceguide.net)

     “Este é um pequeno passo para o homem; um salto gigantesco para a humanidade”: essas palavras ditas pelo Neil Armstrong, naquele momento, ecoam até hoje.

     Comovido, ouvi da rua alguém falando alto - e me preparei para o pior, para o início da destruição, para o fim do luar, para o “apagão” do mundo. Parecia que meus temores estavam indo da fantasia para a realidade: fui à janela e, puxando um pouco a cortina, olhei para fora. Não vi ninguém. Vi a noite calma, a calçada deserta, e a árvore guardiã diante de casa: o mundo, sob a perspectiva de um menino de cidade pequena em uma janela, estava em paz.

     Além da Edição Especial da revista “Realidade”, que trouxe uma foto do astronauta em solo lunar, guardei na mente o nome, a façanha e a aventura dos três heróis: Armstrong, Collins e Aldrin. Eles certamente carregaram aquele momento pelo resto de suas vidas. Mas eu carreguei também, por muitos anos, a consequência de sua expedição à lua: inspirado neles, nos três heróis, alimentei a ilusão do astronauta que um dia eu poderia ser... – até que tirei a cabeça do mundo da lua e vim pousar na realidade.

(Edição da Revista "Realidade" - fonte: emule.com)

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