quarta-feira, 6 de maio de 2015

"AU TEMPS DE KLIMT"



("Frisa de Beethoven"* (detalhe) - Klimt - fonte: http://photos1.blogger.com/blogger/336/1943/1600/friso_Beethoven_Klimt_jlj270.jpg)


"Não há religião nem ciência acima da beleza. Eu construiria uma cidade à beira do mar, e numa ilha do porto erigiria uma estátua não à Liberdade, mas à Beleza. Pois foi ao redor da Liberdade que os homens travaram suas batalhas. Por oposição, ante a face da Beleza, todos os homens estenderam as mãos uns aos outros como irmãos".
(Gibran Khalil Gibran)


(Cartaz promocional da exposição na entrada da Pinacoteca - fonte: arq. pessoal)


     Pela cidade de Paris anunciava-se a exposição "Au temps de Klimt - La sécession à Vienne" ("No tempo de Klimt - A secessão em Viena"). Eu, Denise e Lígia localizamos no mapa o endereço onde a exposição estava sendo realizada e para lá nos dirigimos: "Pinacoteca de Paris".

("Pinacoteca de Paris" - Denise e Lígia, na calçada - fonte: arq. pessoal)

     Para a compra de ingressos tomamos nosso lugar na fila e ficamos esperando. Enquanto aguardávamos surpreendia-nos a diversidade de línguas que estavam sendo faladas por diversos grupos. Cada grupo com característica e perfil diferente do outro, sugerindo uma segmentação por nacionalidades. Creio que, se os membros de uma mesma comunidade linguística fosse conversar com os do outro, cada qual em sua própria língua, muito provavelmente não se entenderiam. Portanto, cada grupo ficou restrito à conversa e entendimento entre os seus próprios componentes.

     Atrás de nós um senhor e uma senhora trocavam palavras  em um idioma que me era totalmente desconhecido. Em um determinado momento a senhora distraidamente avançou alguns passos na fila e deixou-nos para trás. Ao perceber isso voltou-se para a Denise, disse algo em seu próprio idioma, retornou ao seu lugar e, suponho, pediu desculpas. Sorrimos todos. Porém, não entendemos as palavras que ela havia nos dito, e imagino que ela tampouco tenha entendido as palavras que dissemos a ela. Porém entendemos sua intenção, e ela certamente entendeu a nossa.

     E nesse universo de idiomas e observações chegamos ao guichê. Compramos nossos ingressos e entramos.

     Lá dentro, toda aquela babel naturalmente se desmanchou. Nas salas de exposições os grupos se desfaziam e as pessoas se misturavam. Dezenas de telas e afrescos nos levavam ao tempo e à história de vida de Klimt. Éramos todos silêncio. Assim como os demais que estavam naquelas salas, e sem que houvesse permissão para fotografias, observávamos os trabalhos expostos - em especial, uma réplica do "Friso de Beethoven"*. Eu não mais ouvia a voz humana, simplesmente a minha voz interior. Externamente, o único som era o do movimento dos presentes.

     Envolta nesse silêncio de vozes, a sala traduzia harmonia entre as nações representadas pelos pequenos grupos que haviam estado segmentados do lado de fora. Sem a necessidade de palavras, o belo promovia a integração e a compreensão. Era a arte promovendo sentimentos... Sentimentos comuns que não dependiam de língua, de local ou de tempo... sentimentos que uniam, que aproximavam, que humanizavam - e que nos colocavam na condição mais pura, verdadeira e primitiva, de "filhos de Deus".


(CLIQUE NA SETA PARA ASSISTIR UM PEQUENO FILME SOBRE A EXPOSIÇÃO)
("Au temps de Klimt - La sécession à Vienne")


*Este afresco, de 34 metros de comprimento por dois de largura, está exposto desde 1986 no palácio-museu vienês da Secessão, onde foi apresentado pela primeira vez pelo próprio Klimt (1862-1918) em 1902.  

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