sexta-feira, 20 de maio de 2011

O RÁDIO E OS DISCOS


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
("Good Bye Media Man" - Tom Fogerty - 1972)


Ao Ramidão


     Aprendemos a viajar muito, e de todas as formas. A ausência de meios concretos é sempre responsável por nos impulsionar aos meios abstratos para conhecermos e desenharmos na mente artistas e lugares.

     De 1968 a 1972 uma banda norteamericana fez um sucesso danado misturando rock e country: Creedence Clearwater Revival. Muito novinhos ainda, eu e meu grupo de amigos de escola em cidade pequena, só tínhamos acesso aos lançamentos musicais por intermédio do rádio. Em especial, na Rádio Tupy de São Paulo, o programa Barros de Alencar fazia com que, pela música, passeássemos por países, cidades e lugares existentes e inexistentes. Era fácil passear assim: era só fechar os olhos e ouvir o programa. Em especial, durante as férias escolares, eu ficava esperando o início do programa. Mas eu não era o único. Meu amigo BF também fazia o mesmo. E quando, no programa, aparecia alguma música nova, eu ligava para ele, ou ele ligava pra mim, para fazermos nossos comentários.

(O meu amigo BF - foto: arq. pessoal - detalhe)

     Foi nesse programa de rádio que ouvi pela primeira vez “Good bye Media Man”, em gravação de Tom Fogerty*. Era o seu primeiro sucesso depois da separação, em 1972, do "Creedence" - grupo do qual fazia parte. Fiquei deslumbrado com aquela música. Mas, como música boa precisa ser ouvida à exaustão, era um sofrimento danado ficar "grudado" no rádio, em estações de ondas curtas – que eram as únicas que conseguíamos sintonizar na época. Ficávamos longas horas ouvindo rádio, na expectativa de ouvir a música ser tocada. E sempre comentávamos: “tocou tal música às tantas horas...você ouviu?”. Seria muito fácil ir a uma loja de discos e comprar o disco... Comprar... mas... cidade pequena... não tinha loja de discos (e nem banca de revistas). 

     Um belo dia chegaram à distribuidora de gás da cidade alguns “compactos” para venda. Eu, que vivia por ali, vi quando os discos chegaram. Dentre eles, “Good bye Media Man”. Fiquei desesperado de vontade de comprar o disco. Corri prá casa para encontrar meu pai e pedir a ele o dinheiro prá comprar o disco.

     Enquanto eu o esperava, sem conter minha ansiedade, peguei o telefone e liguei para o BF para lhe contar a novidade: “vou comprar o disco e poder ouvir a música a hora que eu quiser!”, disse-lhe eu.

     Mais tarde, com o dinheiro em mãos, fui correndo até a distribuidora de gás para comprar o disco. Mas, ao chegar lá, “cadê o disco...?” Tinha sido vendido! Chateado, só me restava lamentar com o BF o “sumiço” do disco. Peguei o telefone e liguei para ele.

     Ao receber a notícia, do outro lado da linha, ouvi do BF um sorriso meio sem graça a me contar que fora ele quem havia comprado o disco.

     Chateado, passamos alguns dias sem nos falarmos. Depois, porém, pensei melhor e  me senti até aliviado. “Menos mal”, pensei, “pelo menos o disco ficou em boas mãos”. Afinal, lá na casa do BF eu entrava e saía quando quisesse, ligava a vitrola, ouvia discos...

     Ainda hoje, quando nos encontramos, eu e o BF relembramos essa história e rimos muito. Mas ele, com o mesmo riso que deu quando me contou que tinha comprado o disco, apressa-se em dizer: “o disco tá lá em casa, passa lá prá gente ouvir”.

     A verdade é que aprendi a lição - mas dei o troco. Em 1973, quando chegou na distribuidora de gás “Rose Garden”, com a Lynn Anderson, que adorávamos ouvir no rádio, fui lá, escondi o disco (só tinha um), e só depois contei ao meu amigo que o disco tinha chegado e que EU o havia comprado: ERA MEU!

(Lynn Anderson - "Rose Garden" - 1973)

P.S.: O disco "Rose Garden" ainda está lá em casa.

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*Tom Fogerty - irmão do John Fogerty – Os dois, juntamente com Stu Cook e Doug Clifford formavam o Creedence. 

Um comentário:

  1. Elias, só em Guará para vender disco na distribuidora de gás. Muito hilária esta história...depois você promete me contar quem era o B...kkkk!!!
    Beijos

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