sexta-feira, 30 de março de 2012

"ORFEU NEGRO" E A IGREJA DE ST. PETER


("História da Igreja e de sua construção" - placa na entrada - set2011 - arq. pessoal)

     Das muitas situações que me ocorreram em visita ao norte da Inglaterra, com um grupo de estudos do Rotary International, uma delas me surpreendeu e me deixou muito feliz. Foi em Sunderland, cidade localizada na foz do Rio Wear, às margens do Mar do Norte.

("Fawcett Street, Sunderland" - set2011 - arq. pessoal)

("Uma rua em Sunderland"- set2011 - arq. pessoal)

     Em uma manhã de sol fomos conhecer St. Peter’s Church – a igreja de São Pedro. Construída no ano de 674 d.c. (século VII), essa igreja, em vias de ser reconhecida como patrimônio da humanidade, tem uma das primeiras estruturas construídas em pedra, com a torre e as paredes ilustrando o modo saxônico de construir daquela época.
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("Placa para visitantes na lateral da igreja" - 29set11 - arq. pessoal)

     Fomos recepcionados por um senhor bastante idoso, voluntário indicado pela igreja. David era o seu nome. Estudioso dos detalhes daquela construção, ouvimos dele todas as explicações a respeito das paredes, das pedras, dos murais, dos altares, enfim, de tudo o que o homem transformou do nada em algo representativo e simbólico. Fiquei encantado por estar tendo o privilégio de fazer aquela visita, na condição de convidado especial.

("Visita à St. Peter's Church" - 29set11 - arq. pessoal)

     Ao final, ainda conversando a respeito do que representa, em termos de patrimônio histórico uma construção como aquela, repleta de símbolos, fui presenteado pelo David com um pequeno livro - por ele mesmo escrito - no qual “desvenda” os segredos daquela igreja.

     Naquela noite, tínhamos o compromisso de fazer uma visita ao Rotary Club de Sunburn. Ali, além de nos apresentarmos oficialmente como hóspedes daquele Distrito rotário, deveríamos também apresentar o Brasil. Na reunião do clube, dentre os rotarianos e convidados, estava o David.

     Por natureza, gosto muito de ler, conversar, ouvir e falar a respeito de tudo que seja atinente ao Brasil – em especial estando no exterior. E naquela confraternização, amistosamente rotariana, depois de apresentarmos o nosso país, muitas foram as perguntas que nos foram feitas. Toda atenção estava voltada para as nossas respostas.

     Envolto em emoção, ao final, orgulhoso de mim mesmo por ter tido a honra de poder falar sobre o meu país, percebi o David ao meu lado querendo ouvir mais e, reservadamente, querendo perguntar mais. Surpreendi-me, então, ao ouvi-lo me pedir: “Elias, adorei o Brasil, adoro o Brasil... Apaixonei-me pelo seu país desde que assisti ‘Orfeu Negro’(*), há muitos anos. Quero ouvir você me falar mais: fale-me de ‘Orfeu Negro’!"

     Eu, apaixonado que sou por tudo que tenha alguma ligação com o Vinícius de Moraes, reacendi meu entusiasmo. Fiquei surpreso e feliz ao ouvir de alguém, em um país encantador, às margens do Mar do Norte, na distância de 52 anos entre aquela noite e o lançamento do filme, interessar-se em ouvir comentários brasileiros a respeito daquilo que, da nossa cultura, é mostrado no filme.

     Puxei uma cadeira para mim e outra para o David. Durante um bom tempo ficamos conversando sobre o filme e tudo o que ele representava e ainda representa. Foi um momento memorável. Por fim, com um abraço, eu e o David nos despedimos sem termos que dizer “good bye”: instintivamente cantamos juntos a versão, em inglês, da música-tema do filme: “Manhã de Carnaval”(**).


CLIQUE NA SETA PARA OUVIR E ASSISTIR "Manhã de Carnaval"
JOHNNY MATHIS e AGOSTINHO DOS SANTOS
"Manhã de Carnaval", do filme Orfeu Negro- voz: Agostinho dos Santos e Johnny Mathis
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(*) “ORFEU NEGRO” – filme ítalo-franco-brasileiro, 1959. Oscar de melhor filme estrangeiro, 1960. Dirigido por Marcel Camus. Adaptado por Camus e Viot a partir da peça teatral ‘Orfeu da Conceição’, de Vinícius de Moraes.
(**) “MANHÃ DE CARNAVAL”, (1959 - de Luiz Bonfá e Antônio Maria)

Um comentário:

  1. Elias Querido, ouvi tantas vezes você contando essa estória com tanto entusiasmo desde o seu retorno da Inglaterra, que não me surpreendeu a beleza de texto, imagens e música publicada aqui hoje. Sou sua eterna fã. Beijos.

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