quarta-feira, 24 de abril de 2013

A ESTRADA DO MATADOURO*


(CLIQUE PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)
("Triste berrante" -  Solange Maria e Adauto Santos)

     No domingo passei pela "estrada do matadouro". Fui de Guará para Franca. Era esse o caminho que fazia para ir nadar em uma represa - que nem sei se ainda existe. Minha maior aventura era caminhar ou pedalar por aquela estrada que me mostrava árvores, cercas de arame, sol quente... e muita poeira.

     A três ou quatro quilômetros da cidade estava o matadouro municipal. Ali eu parava um pouco. Mas tinha medo de chegar perto dos currais onde os animais condenados ao abate aguardavam sua hora final. Medo e pena. Minha parada era para tomar água, apanhar goiaba no pé, e seguir em frente... ou então para mudar de rumo e voltar para a cidade. Naquele tempo nada era definitivo; todos os rumos podiam ser mudados pelo simples sabor do divertimento... e essa aventura durava o dia todo.

("Minha maior aventura era caminhar ou pedalar por aquela estrada" - foto:  http://farm4.staticflickr.com/3040/3033967645_5ec4922fca_z.jpg)

     Por aquela estrada passavam cavaleiros conduzindo pequenas boiadas. Vi muitas. Ficava assustado... Por ali passavam também muitas carroças puxadas por cavalo. Eu parava para ficar olhando. Comandar um animal, de cima de uma carroça, era um grande desafio que eu desejava ter. Nunca tive. Eu olhava com admiração aqueles homens de chapéu e botinas de couro, rédeas na mão, controlando seus animais com palavras de ordem...

     Aquela estrada já não é mais a mesma. A carroça de então é o automóvel de hoje, e o chão de terra virou asfalto.

     Gostei do que vi. Gostei muito. Tanto daquilo que a lembrança resgatou quanto do que a realidade me apresentou: a estrada sinuosa passando por Ribeirão Corrente até chegar a Franca, com sinais encantados nas curvas do seu relevo marcado pelos seus belos, belíssimos cafezais às margens da rodovia... e o céu lá longe, azulzinho...

(Cafezal na rodovia entre Franca e Ribeirão Corrente - foto: http://www.trekearth.com/gallery/South_America/Brazil/Southeast/Sao_Paulo/Ribeirao_Corrente/photo1099681.htm)

     Quando era criança não fui de caçar passarinho. Mas, sem saber, fui menino de guardar tudo o que via para poder rever, de repente e involuntariamente, pelo resto da vida.

("Comandar um animal de cima de uma carroça era um grande desafio que eu desejava ter" - fonte: arq. pessoal)


*Rodovia Vicinal José Landim

4 comentários:

  1. Grande Elias, passamos muito por essa estrada, meu Pai e eu, que mantinha um viveiro de plantas da Prefeitura Municipal, ao lado do matadouro, terreno esse que sempre pertenceu ao município de Guará. E sempre fazíamos esse caminho em um trator com uma carretinha, da Prefeitura Municipal que buscava as plantas. saudade, de meu Pai, da Estrada, dos tempos bons vividos em Guará,como já lhe disse, sempre aprendendo e revivendo com seus textos, abraços.

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    1. Lembro-me bem do seu pai e do carinho com que ele cuidava das plantas dos jardins em Guará. Obrigado pelo comentário. Grande abraço, Norberto.

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  2. Querido Elias, sempre trazendo grandes reminiscências que infelizmente com o tempo foram sendo quase apagadas. Também, como guaraense, passei por ali várias vezes e nunca quis parar no matadouro por razões semelhantes a sua. Na maioria das vezes ia ao curtume e mais recentemente no pesque pague. Tenho até uma lembrança de uma ida ao curtume e o José Américo viu uma lontra e ficou apaixonado. Quis montar uma banda com esse nome. Pode? Pergunte a ele. Coisa mais gostosa seus textos. Obrigado. Abraços.

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    1. João, seus comentários enriquecem as postagens. Gosto de lê-los. Velhos caminhos, novas inspirações. Obrigado. Grande abraço.

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