segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O MAR DO NORTE


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("Le Plat Pays" - interpretada por Jacques Brèl)


     Tenho um imenso mapa múndi pendurado em uma das paredes do meu escritório. Passeando com o olhar pelos seus países, suas fronteiras, continentes e oceanos, detenho-me na faixa de mar que banha o Reino Unido, entre Inglaterra e Escócia de um lado, e Noruega, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Bélgica do outro. É ali o Mar do Norte.  


(Localização do Mar do Norte - FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Nseamap.gif)

     Conheci-o pelos livros de geografia. Sempre o imaginei frio, gelado, escuro, acobertado por nuvens acinzentadas, de onde assopravam ventos insuportáveis... E sempre imaginava ali em uma de suas praias melancólicas na Bélgica o Jacques Brèl, vestido de roupas quentes e escuras, olhando para a distância, em direção ao litoral da Inglaterra.

     Essa imagem me era constante toda vez que o ouvia cantar "Le Plat Pays" (escrita em 1961)... E houve um tempo nas décadas de 70 e 80 que eu o ouvia com muita frequência...

     Revi essa imagem, depois de muitos anos, quando conheci a Inglaterra. De dentro de uma van em uma noite de frio, em direção a uma cidade chamada Seahouses, nosso guia moveu a cabeça para o lado direito da rodovia e nos apresentou sem que pudéssemos vê-lo: 

     - "On your rightside, the North Sea".  (à direita, o Mar do Norte).

     Através da janela da Van olhei para a escuridão à minha direita, e pensei no Mar do Norte que o Jacques Brèl menciona em um trecho de "Le Plat Pays". 

Com o Mar do Norte como último terreno baldio, 
e com as ondas de dunas para conter as ondas, 
e os vagos rochedos que as marés galgam 
e que têm para sempre o coração na maré baixa... 
Com um nunca acabar de brumas a chegar, 
trazidas pelo vento do oeste, escutem-no resistir, 
este país plano que é o meu...

     Nessa música ele - o Brèl - descreve a terra do seu país - a Bélgica -, e como ela reage a cada um dos quatro ventos. 

     Passei aquela minha primeira noite em uma casa de campo, à beira mar, tentando me interagir com as manifestações do Mar do Norte, ouvindo (sem vê-lo) suas vozes e suas ondas... 

(Budle Hall - a primeira noite com o Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)

     Quando alguns dias depois olhei de frente o Mar do Norte, e deslizei minhas mãos pelas suas águas, senti meu corpo todo estremecer não só de frio mas também de emoção...  


(Holy Island of Lindisfarne - ao fundo, o Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)


(As pedras do Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)

     Pelas águas daquele mar, no lado oposto ao da Bélgica do Brèl - e bem mais ao Norte -, senti o sopro do vento trazê-lo - o próprio Brèl - por intermédio de uma música, para estar ali ao meu lado falando-me de seu país...

     - "Le plat pays qui est le mien..." (o país plano que é o meu) - pensava.

     Curvei-me diante do Mar. E ao acariciar suas águas, uma pedra leve e acinzentada, dentre tantas, desgastada pelo tempo, veio às minhas mãos... Não senti vontade de devolvê-la ao mar. Segurei-a em minhas mãos até que ela secasse; e guardei-a no bolso de meu blusão para trazê-la comigo, em minha mala. 

     Hoje essa pedra está em uma das estantes do meu escritório. Ali eu a guardo como um presente que me foi enviado pelo Jacques Brèl, e que me foi trazida pelas águas frias do Mar do Norte...

(A pedra que me foi dada pelo Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)

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