quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

VINÍCIUS E BADEN: OS AFRO-SAMBAS


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)
("Canto de Iemanjá", de Baden e Vinícius - Vinícius, Baden, Dulce Nunes, Quarteto em Cy)

     Quando fiz o curso de Direito Processual do Trabalho meu professor indicou como fonte de estudo um livro de sua autoria. Mencionou que havia um outro livro de um jurista chamado Carlos Coqueijo Torreão da Costa que poderia servir como fonte de estudo. Eu, assim como todos os demais alunos, fui levado a estudar exclusivamente pela obra do professor - que era um jurista renomado, porém, a meu ver, moldado e presunçoso. Se eu soubesse que o Coqueijo Costa*, além de compositor e multiinstrumentista, era amigo do Vinícius de Moraes, do Carlos Drummond, do Jorge Amado, e de tantos outros brasileiros que admiro, sem dúvida nenhuma teria optado por estudar em seu livro: no mínimo por me parecer uma pessoa mais interessante e aberta. Talvez por intermédio dele eu pudesse ter adquirido um pouco mais de simpatia pelo ramo trabalhista do Direito - só não sei se seria aprovado naquela matéria durante o curso.

     Carlos Coqueijo era baiano. Certa vez presenteou seu amigo Vinicius de Moraes com um disco que trazia gravações de sambas de roda da Bahia, pontos de candomblé e toques de berimbau. Vinícius, fascinado com o presente, mostrou-o ao Baden Powell; o Baden, então, pessoalmente, foi conhecer os cantos do candomblé baiano. Encantados e inspirados por aqueles sons e por aquela cultura, Vinícius e Baden compuseram e gravaram oito músicas em 1966 em um disco chamado os "Afro Sambas":

Canto de Ossanha
Canto de Xangô
Bocoché
Canto de Iemanjá
Tempo de Amor
Canto do Caboclo Pedra-Preta
Tristeza e Solidão
Lamento de Exu

     Misturando instrumentos típicos do candomblé (atabaque, bongô, agogô, chocalho e afoxé) com instrumentos da música tradicional (flauta, violão, sax, bateria e contrabaixo), Vinícius e Baden introduziram elementos de religiosidade e cultura africanas à música brasileira. 

     Pelo que esse disco representa em termos sonoros, culturais, e de sincretismo da África com o Brasil, tornou-se um clássico antológico.

     Por intermédio de seus sons, toda vez que o coloco para ouvir a sensação que tenho é de que estou em um terreiro de candomblé invocando a presença de orixás e fazendo a eles as minhas oferendas... (mas também me lembro da opção de livro que fiz no curso de Direito Processual do Trabalho).

     No mínimo pelas imagens que cria, vale a pena conhecer e viajar nas oito músicas d'Os Afro-Sambas.

     - Saravá**!

("Os Afro-Sambas" - Capa do disco - fonte: http://tudoqueabocacome.zip.net/)

_______________________________
*Carlos Coqueijo Torreão da Costa (1924/1988) foi jurista, compositor, maestro, jornalista, poeta, letrista, homem de teatro, cronista e cantor. Nasceu e morreu em Salvador (BA). Foi ministro do TST.
**SARAVÁ = (Houaiss) saudação que significa "salve", "viva". Etimologia: forma como os escravos pronunciavam a palavra portuguesa "salvar". Em estudos de umbanda significa "a força que movimenta a natureza".

Nenhum comentário:

Postar um comentário