segunda-feira, 11 de julho de 2011

SENTIMENTO DO MUNDO

("Lonely green plant growing on a stone wall" - fonte: fotolia.com)

Ao meu vizinho e primeiro professor de português,
Joaquim Aparecido Martins


     Não tenho o direito de reter e aprisionar em egoísmo ignóbil, nem tampouco de fechar no meio de um livro qualquer aquilo que sensibiliza, mexe, humaniza e constrói. Quero compartilhar a mensagem transcrita abaixo, recebida de um amigo, como há anos, muitos anos não recebia, com a gratidão de quem recebe um tesouro. A sua caligrafia permanece desenhada no quadro negro da minha memória e na folha de papel de caderno grafada em tinta azul que ora releio. Sei que os pardais que ouvi anunciar a chegada de muitos novos dias foram os mesmos que ele ouviu, que o barulho de trem que rompeu o silêncio das minhas madrugadas também rompeu o silêncio das dele... Sei também que o coração atento de quem semeou só coisas boas, imantou de sentimento do mundo várias gerações de seguidores seus.

     Eis a mensagem:

Não digas que teu tesouro está esgotado
De falta de assuntos, emudeceu a lira; 
Poderá não haver poetas, mas sempre
Haverá poesia!

Enquanto as ondas de luz durante o beijo
Palpitem incendiadas,
Enquanto o sol, das desgarradas nuvens
De fogo e ouro, se vista;

Enquanto o ar em seu regaço leve
Perfumes e harmonias.
Enquanto haja no mundo primavera,
Haverá poesia!

Enquanto a ciência a descobrir não alcance
As fontes da vida,
E no mar ou no céu haja um abismo
Que ao cálculo resista;

Enquanto a humanidade sempre avançando
Não saiba por onde caminha;
Enquanto haja um mistério para o homem,
Haverá poesia!

Enquanto sintamos que a alma se alegra,
Sem que os olhos riam;
Enquanto se chora sem que o pranto acuda
Ao nublar a pupila;

Enquanto o coração e a cabeça
Prossigam batalhando.
Enquanto haja esperanças e lembranças,
Haverá poesia!

Enquanto haja olhos que reflitam
Os olhos que nos miram;
Enquanto responda o lábio suspirando
O lábio que o suspira;

Enquanto sentir possam em um beijo
Duas almas gêmeas;
Enquanto exista uma mulher formosa,
Haverá poesia! 

(Gustavo Adolfo Bécquer, poeta espanhol – *1836 /+ 1870)

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