terça-feira, 25 de janeiro de 2011

OS CABELOS E A BOLA

     (Foto: Portão de entrada do Estádio Arthur Alves dos Santos, em Guará, SP - "campo da Associação")

     Há pessoas que se vão como se nunca tivessem passado por aqui. Vão embora sem podermos saber para onde, enfiam-se no mundo e aventuram-se na vida. No entanto permanecem nas nossas lembranças e fazem parte da nossa formação, mesmo que nunca tenham sabido isso. Somos importantes por tudo que fazemos; deixamos nossas marcas, nossos exemplos àqueles que por algum motivo ou por um algum momento passaram pela gente.
    
     Guardo uma lembrança de alegria e simplicidade de um amigo de quem não tinha notícias havia uns vinte anos. Foi amigo de jogos de futebol no asfalto das ruas, no Clube ou na Associação que frequentávamos, e amigo de muitas conversas despreocupadas nos bancos da praça da igreja. Ele queria ser jogador de futebol. Após as partidas nas quais atuava perguntava-nos, a mim e aos nossos amigos comuns, com simplicidade, se os seus cabelos esvoaçavam conforme corria dentro de campo. Era vaidoso, de uma vaidade adolescente com seus cabelos. Eu o via sempre alegre, sempre pronto a jogar futebol. Foi embora da nossa cidade, não mandava notícias, e aparecia raramente nas festas de finais de ano. Eu sempre perguntava a seus outros irmãos notícias do meu amigo.
    
     Na semana passada fui reconhecido por uma jovem, com quem troquei saudações. Percebendo que eu não a reconhecia, contou-me ela quem eram seus pais, quem eram seus irmãos. De imediato a lembrança alegre do meu amigo, a satisfação de estar falando dele - seu irmão - me trouxe a pergunta: "por onde anda?"; "como vai ele?" De fisionomia repentinamente alterada contou-me ela que seu irmão, havia poucos meses, morrera sozinho longe de casa, sem ter constituído família, sem ter deixado nada, vítima de doença incurável. Surpreso e comovido, com um engasgo na fala, senti naquela hora a triste perda do amigo. Contudo também sinto hoje uma alegria e um carinho comovente ao me lembrar do "Fio", meu amigo, filho do "Chico Barbeiro".

RP, 05/abr/00

Um comentário:

  1. Muito triste saber da partida de pessoas tão queridas, embora não estejam mais presentes na nossa vida, fizeram parte dela!!! Saudades!!!

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